04 dezembro 2009

mesquitas, minaretes e cidades


(imagem copiada daqui)

Há tempos li um artigo de opinião de um arquitecto a propósito da construção de mesquitas na Europa. Se bem me lembro (eu, nestas coisas de contar meses mais tarde o que li, nunca sei se estou a falar do que lá estava escrito ou do que entretanto tornei meu) ele falava de duas opções: aceitar a existência de outras religiões e dar-lhes no seio da nossa sociedade espaços de culto dignos e com uma linguagem arquitectónica própria do nosso tempo, ou afastá-las o mais possível do centro (não apenas o espaço físico), forçando-as a uma atitude de resistência e afirmação identitária por recurso a uma reinvenção kitsch do orientalismo, ou seja, recorrendo a uma estética anacrónica e profundamente retrógrada - até no próprio país de origem dessas comunidades. Nesse caso, o resultado vísivel na cidade são aquelas mesquitas nas zonas industriais com um miserável ar de barracão cercado de torreões.

Se estamos a falar de mesquitas e minaretes, eu quero que a minha cidade, entendida como espaço cénico, se valorize com edifícios que sejam uma mais-valia. Como o Institut du Monde Arabe, em Paris, ou a embaixada da Arábia Saudita (na foto seguinte), uma das minhas preferidas em Berlim.


(imagem copiada daqui)


Se estamos a falar de ruído no centro da cidade, lembro-me logo de um cunhado meu, que investiu todas as suas poupanças numa casa que achava formidável - até à primeira noite em que dormiu lá dentro, e acordava de hora a hora com o sino da igreja a ressoar dentro do seu quarto. Aquela torre, que de dia parecia tão bonita, à noite ficava horrorosamente perto.
(Conseguiu vendê-la, não sei o que é que os actuais proprietários pensam do caso.)
Nas aldeias da minha infância, os sinos faziam parte da vida da comunidade, e os seus sinais eram reconhecidos: "já é hora de avé-maria", diziam as pessoas no meio do campo, quando ouviam as badaladas por volta do meio-dia. Ou: "morreu alguém, quem terá sido?"
Mas nas cidades deste nosso Ocidente Cristão os sinos das igrejas também podem incomodar. A sociedade evoluiu, muitas pessoas afastaram-se da fé cristã, ou de certas maneiras de a viver, e quase todas usam relógio, de modo que é menos necessário haver um sino a lembrar ao povo a hora da avé-maria, ou o início da missa (esta, de qualquer modo, cada vez menos frequentada).
Se estamos a falar de ruído, pois discutamos então livremente o papel e a necessidade dos sinos (será que as cidades europeias do séc.XXI se identificam com estes significados?), do gravador no minarete, dos carros das campanhas eleitorais, dos apitos dos automóveis quando se ganha um campeonato de futebol.

Se estamos a falar de integração, então é fundamental trazer estas minorias para o centro da comunidade, e construir-lhes para local de encontro um edifício que seja o orgulho de toda a cidade. Quanto mais aceites e valorizados se sentirem, menos muçulmanos terão a necessidade de se refugiar no fundamentalismo.

Finalmente, se estamos a falar de terroristas, ou de falta de respeito pelos direitos humanos, falemos então de terroristas ou de falta de respeito pelos direitos humanos, em vez de nos pormos a proibir mesquitas e minaretes.

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