21 novembro 2009

um livro por semana

Na tarefa hercúlea de reduzir o tamanho da estante "livros que ainda quero ler", cheguei ao "Cemitério de Pianos" de José Luís Peixoto. Que já estava na sala de espera para atendimento imediato, aquele metro cúbico empilhado na minha mesinha de cabeceira.
Um livro por semana, isso é que era bom. Como é que conseguirei passar ao seguinte, enquanto não destrinçar o mistério de um Francisco que era avô de si próprio?

Ou então: aconteceu-se-me outra vez um curto-circuito na cabeça enquanto lia. É o que dá ler na cama antes de adormecer. Já o Lobo Antunes se queixava há mais de vinte anos que é uma frustração um escritor desunhar-se assim e para quê? para o pessoal ler umas frasezinhas antes de adormecer. E mal ele sabia dos curto-circuitos que me acontecem.

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Curto-circuito. O que me lembra da altura em que andei a ler o, deixa-me lá ver como é que se chamava aquela futilidade em forma de parvoíce, ah, já sei: o "Sei Lá", e estava capaz de jurar que a autora meteu um dia extra entre um sábado e um domingo. Mas não fui ver de novo, que já lá diz o povinho: "não se deve voltar aos lugares onde fomos infelizes".
Foi um livro que me deixou muito inquieta, porque uns homens usavam cachecol Lacoste e outros Chanel (se calhar eram outras marcas), e eu lia aquilo e ficava com a sensação que me estava a escapar completamente o simbolismo da coisa.

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Marcas. O que me lembra que outro dia fui a um dos restaurantes mais luxuosos de Berlim. Daqueles restaurantes onde, se uma pessoa se descuida, lá se vai um salário mínimo num almocinho para dois (confesso que tenho alguma dificuldade em gerir estas disparidades). Ora bem: fui, e levei um casaco de que gosto muito, mas que comprei no C&A. Quando a empregada pegou nele para o ir arrumar no guarda-roupa, eu vi que ela viu a marca do casaco (mas disfarçou bem o choque). Da próxima vez, hei-de ver que roupa levo, e conforme o caso, trato de a dégriffer previamente.
Aquele casaquinho C&A, por exemplo, sem a griffe valia à vontade uns 100 euritos mais.

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Valer mais do que custa. Hoje fui comprar umas flores às turcas do mercado de sábado, na praça aqui perto. São muito simpáticas. Perguntaram-me pela família, e pelas dificuldades na educação dos filhos adolescentes (trocamos sempre condolências sobre esse assunto), enquanto me faziam um ramo lindo-lindo-lindo, por dez euros. Ao pagar, disse-lhes "este ramo está com cara de valer vinte" - mas guardei o troco bem guardado.
O que me lembra daquela vez que fui ao restaurante tailandês da minha rua encomendar arroz de sushi já feito, para uma festa de anos da Christina. Perguntei o preço, e a tailandesa respondeu: "cinco eulos". E eu, que sei o que o arroz custa, e quanto custa prepará-lo, perguntei "mas por esse preço ainda ganha algum dinheiro?" e ela disse "então está bem, quatlo eulos". E eu pensei "calateboca, que se me explico melhor ela ainda vai achar que tem de me pagar para eu trazer o arroz".

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Podia continuar este jogo do "isto faz-me lembrar de..." durante horas, mas tenho que ir ler um livro qualquer, que esta semana já está a acabar, e eu até agora nem uma página, porque andei noutros stress culturais. Com licencinha, e bom fim de semana!

(Será que o plural de stress é stresses?)

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