Os miúdos (abençoados sejam!) queixaram-se que as nossas festas de Natal são muito chatas. Dizem que a comida é sempre a mesma coisa, e que parece que estamos a prolongar o jantar para aumentar o suspense do momento de dar as prendas, e que as canções acompanhadas pelo piano são uma estopada (a culpa não é das canções, é dos meus dedos, que demoram muito a passar de um tom para o seguinte, e eles, coitados, a cantar aos sobressaltos, "será que já posso avançar, ou prolongo um pouco mais esta nota?")
Encontrei um hotel no mar Báltico, três dias com pequeno-almoço e jantares de festa, 1500 m² de spa, piscina grande, tudo, por um preço que não é muito mais caro que ficar em casa (se descontarmos o pinheiro, mais a comida melhorada, mais as idas à piscina aqui em Berlim, e assim). Desato a sonhar: quase quatro dias sem ter de pensar no que vou cozinhar para o almoço e no que vou cozinhar para o jantar, aaaaaahhhhh, sem ter de arrumar a cozinha, aaaaahhh, quatro dias de passeios na praia, e saunas várias, e nadar na piscina, e chegar ao restaurante e ter tudo pronto, aaaahhhh. Imagino já uma tradição futura, Natal no Báltico, pronto. E nós a passear na praia, e nós na maisonette com vista para o Bodden (que é o nome que se dá àquela imensa ria) a jogar às cartas com os miúdos ou a ver um filme...
E vai o Joachim e pergunta: e nessa cidade tem missa?
Triste vida. Se calhar não tem, que aquilo era RDA.
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Tem, tem. Apesar desse desmancha-prazeres que foi o Martinho Lutero e do outro desmancha-prazeres que foi o comunismo (isto é tudo efeito plano inclinado, desde Adão e Eva que tem sido sempre a descer), graças aos russos e à nova geopolítica surgida da segunda guerra mundial, aquela região encheu-se de refugiados alemães vindos do Leste, muitos deles católicos.
Nunca mais ninguém diga mal do Exército Vermelho à minha frente!
Só o Joachim é que tem um bocadinho de pena, porque no ano passado foi comprar o pinheiro de Natal no dia 24 à hora a que o mercado fecha, e arranjou um Nordmanntanne de três metros por apenas vinte euros, porque de qualquer modo já não contavam vendê-lo. De modo que ele alimentava o sonho de criar uma nova tradição familiar de Natal: ir com o Matthias à última da hora tentar comprar um pinheiro fantástico ao preço da chuva. Adrenalina.
(a foto foi tirada daqui - vão ver, que o site está cheio de imagens de sonho)
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