O segunda língua também esteve mês e meio calado. Hoje voltou.
Copio para aqui o post, porque me ocorreu que seria um óptimo final para o Eleições 2009, mas - já sabem - este blog é para ser lido inteiro e devagar. Não há como escolher um post em prejuízo dos outros.
Quarta-feira, 14 de Outubro de 2009
múmias
Movia a ossatura, mumificado pela comitiva de bandeiras e algumas câmaras de TV, transbordando dos passeios para a rua incomodando o trânsito. O mesmo sorriso da adolescência, agora um pouco mais cínico, o mesmo corte de meia malga, agora com menos cabelo, o rosto excessivamente envelhecido, talvez, quiçá, do sol de Lisboa em demasia. Nunca pensei que desse em político, distracção minha - a política também funciona por dinastias.
Os políticos que a província embarca para a capital descem, por um dia, dos placards à calçada. Desembrulham-se na rua entre bandeiras e slogans parolos, apertando todas as mãos, beijando rostos estupefactos de mulheres encostadas nas soleiras das portas. Fazem todos os sacrifícios. Deixam as velhas lamberem-lhes a cara. Elas sabem que eles não gostam. Riem-se umas com as outras trocando detalhes do seu prazer maléfico, comparando cheiros de colónias e sabores de after-shave. Coleccionam lambidelas e no dia do voto decidem pela memória do nariz e da língua. Eles repõem no corpo camadas de linho encharcadas em resina, a toda a velocidade em direcção ao sul.
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