03 julho 2009

exemplar

(Post publicado também no Eleições 2009)

Há poucos dias, um amigo contava-me que as conversas que tem com outros donos de cães, nos seus passeios diários, o deixam cada vez mais preocupado: "O estado de descontentamento e desconfiança nos poderes e agentes públicos é assustador. Há muita gente a dar como garantido que os políticos são todos corruptos, que precisamos de uma monarquia, ou, inevitavelmente, que no tempo do Salazar ao menos não havia disto...
Começo a ter um certo receio daquilo que nos pode estar a acontecer. Somos um país sem tradição democrática que pensa que entrou numa fase de cansaço da democracia. Há muita gente a não perceber que os problemas que identifica têm origem na falta de democracia e não no excesso dela. E começo a pensar que alguns dos políticos também não percebem o que está a acontecer, ou assobiam para o lado. Se com o Guterres existia o pântano, então qual é a metáfora para a situação onde estamos agora?"

Respondi-lhe que já não aguento mais ouvir a desculpa de que a nossa Democracia é muito jovem. Quantos anos tem a Democracia espanhola? A alemã tem apenas mais 25 anos que a nossa, e veio de uma situação muito pior (boa parte da população aceitou a deriva nazi, os mais jovens foram formados por ela, a oposição foi praticamente aniquilada, muitas das melhores cabeças foram executadas). Não vale a pena lamentar-se - é a Democracia que temos, e é a partir daqui que temos de construir e melhorar, dia a dia. Numa palavra: exigência.

A demissão do ministro Manuel Pinho é um caso exemplar. O PS fez o que tinha a fazer.
Esta não é uma questão de uns partidos serem melhores que os outros, mas de um mínimo que todos têm de cumprir.
Saibamos aproveitar o incidente, não para fazer joguinhos partidários, mas para afirmar claramente: não há, em Democracia, espaço para um comportamento destes.
A partir do episódio, venha o debate realmente renovador: como é que queremos a nossa Democracia?

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E já que falei na Democracia alemã: o Parlamento alemão publica semanalmente um jornal com a síntese dos debates actuais e a posição dos diferentes partidos. Discute apenas as ideias, sem insultos nem provocações. A gente lê esses textos, e fica com a sensação que é fácil.

Para quem lê alemão: aqui - e aqui os temas actuais.
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Adenda (sugestão da Céu na caixa dos comentários):
Sobre o Estado da Democracia e outros "quês", se quiserem ouçam esta entrevista do filósofo José Gil...


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