20 abril 2009

em cena

No episódio Susan Boyle, não sei dizer o que me incomoda mais: se é o facto de largarem em palco uma pessoa assim pouco produzida para se poderem rir dela, se as revelações que ela própria faz sobre a sua vida afectiva, se este encantamento globalizado pelo fenómeno Gata Borralheira, se as entrevistas posteriores - onde parece já ter passado pelas mãos de algum profissional de imagem (que é como quem diz: ter passado para o lado do inimigo).

Por outro lado, o que não me incomoda, e até diverte, é a questão que não quer calar: quantas encenações haverá nos bastidores desta encenação?

Quem se terá lembrado de tal aparição? Porque é que a Susan Boyle aparece em palco, perante câmaras de tv, com um vestido que não a favorece, e sem passar primeiro por um cabeleireiro? Fez sem querer? Fez de propósito? Foi-lhe sugerido?

E será que o Britain's Got Talent deixa as pessoas aparecerem em palco sem um filtro prévio? O júri é realmente surpreendido pela pessoa em palco, ou já sabe com o que pode contar?
Estaremos perante uma produção ainda mais completa do que parece?...

É evidente que jogaram com os nossos preconceitos - e está bem assim, que aquele espectáculo é caro e convém que tenha audiência e lucro.
Escusamos é de andar agora com cara de papalvos, olha, olha, esta agora teve graça, viram como tínhamos preconceitos?

Se é para falar da dignidade das pessoas apesar da sua aparência, comecemos pela realidade: vamos ao encontro de um qualquer excluído, anónimo e sem talento, com quem nos cruzarmos.
Sem encenações nem morais da história.
Sem efeitos especiais de sapos que se transformam em príncipes.

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