Ia eu em viagem de trabalho, pela primeira vez na minha vida em business class, toda contentinha e curiosa para saber como é o bright side of life, quando entrou no avião um homem acompanhado pela mulher e pela filha.
Era óbvio que ia morrer a Portugal. Não tinha força para andar, praticamente era levado em braços pelas mulheres.
Pediram se ele podia ficar ali à frente, porque o lugar deles era demasiado longe.
A hospedeira foi inflexível: comprou economy, voa economy.
Eu podia ter dado o meu lugar, mas queria tanto ver como é voar em business...
Naquela indecisão, troco ou não?, enchi-me de vergonha antecipada da figura que ia fazer, muito corada de embaraço, a dizer à hospedeira que trocava com ele, a pegar na minha bagagem de mão, a avançar pelo corredor seguida por todos os olhares.
Fiquei calada e fiz de conta que não estava ali, enquanto as duas mulheres o arrastavam pelo corredor adiante até ao fundo do avião.
Foi há quase vinte anos, e não consigo esquecer. É um dos poucos episódios da minha vida que me levam a querer poder voltar atrás no tempo para o desfazer.
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