30 março 2009

aimêdês quis



A Polícia veio, aimêdês quis que o autocarro estivesse em ordem, e que o condutor fosse uma condutora.
Nunca mais ninguém me diga que as mulheres não sabem conduzir. Aquela conduzia tão bem que ficámos com o seu contacto para todas as viagens futuras da escola.

O Mathematikum agradou-lhes de tal maneira, que mesmo após três horas e meia os miúdos não se queriam ir embora.
Aquilo não é matemática, é mais como descodificar magia.
Por exemplo: mostraram-nos um anel de Möbius em papel, e cortaram-no pelo meio. Pensávamos nós que íamos ficar com dois anéis de Möbius, mas ficou um...
...um quê, hã? experimentem, e depois digam.
Depois cortaram outro não pelo meio mas por uma linha que corresponderia a 1/3 da largura. Fascinante.





Na pousada de juventude havia uma instalação de karaoke. O grupo que tinha preparado a festa foi capaz de algo admirável: desistiu do seu projecto que custara dezenas de horas de trabalho, e deixou o pessoal divertir-se como mais apetecia. Karaoke com pais e filhos, e a professora a ganhar a todos em entusiasmo e animação. Foi um serão muito cheio de "quem diria" - quem diria que os meus pais sabem cantar isto, quem diria que a professora é assim descontraída, quem diria que...

Como as pessoas não se conheciam, e estavam curiosas para saber quem eram os pais de quem (disse-lhes que atentassem às distâncias: o filho de fulano seria o miúdo que se encontrasse sempre mais longe dele - mas reconheço que é um processo complicado), fizemos uma roda de apresentação: dizer o nome, o filho (ou os pais), e contar uma mentira sobre si próprio.
Rimos imenso com as invenções de cada um.

Dormi numa camarata com mais 8 mulheres, rejuvenesci uns 20 anos.


No domingo regressámos ao museu para fazer o tal passeio pela cidade com olhos de matemático, mas a nossa guia estava doente; em troca, ofereceram-se para desvendar connosco mais alguns truques de magia matemática. Bolas de sabão para explicar a construção do estádio olímpico de Munique, por exemplo.



Antes do regresso estava prevista uma ida à piscina. Alguns miúdos não queriam largar o museu. Ao fim de um total de 5 horas a brincar matemática, ainda tinham detalhes para explorar.
Acabaram por se deixar convencer, e aimêdês quis que entrassem na hora certa para apanhar dois ciclos de saltos da prancha. Adoraram o escorrega gigante, e entraram no autocarro mortos de cansaço.

O grupo encarregado de animar as viagens (6 horas para cada lado) fez um trabalho magnífico. Muita gargalhada, boa disposição - ninguém se queixou que a viagem tinha sido uma grande estopada, longe disso.

De cada vez que entrávamos no autocarro era preciso contar as pessoas. Sempre em português não tem graça, de modo que o chinês, o vietnamita e a croata tiveram oportunidade de cantar números na sua língua materna. Croata tem um som lindo. Chinês é incrivelmente rápido, o que, pensando bem, é lógico: se fosse como em alemão, einundzwanzig-zweiundzwanzig-dreiundzwanzig, nunca mais conseguiam acabar de contar a população toda.

Há uns meses, quando comecei a preparar a viagem e na turma se estava a desenvolver uma dinâmica anti-Mathematikum, fiz com eles uma aposta: quem vier e não gostar leva um presente. Na viagem de regresso falou-se disso. Eu tinha um presente para a melhor apreciação negativa e outro para quem melhor soubesse argumentar porque é que valeu a pena ir a Gießen. Choveu feed-back, e todo muito positivo.
Disseram que gostaram imenso do museu, das explicações que foram dadas sobre os objectos e a matemática, da piscina, da comida na pousada da juventude, de ver a professora a cantar karaoke, de descobrir que os pais também conseguem ter piada, da animação na viagem.
Também apreciaram a organização (era eu, hehehe, às tantas é bem verdade que os portugueses no estrangeiro trabalham de tal modo que ninguém os reconhece...), e deram-se conta que se criou na turma uma dinâmica de grupo muito positiva.

A crítica mais engraçada veio da irmã mais nova de um dos alunos:

"Gostei muito de estar em Giessen porque me senti muito orgulhosa da nossa cidade, Berlim, que é uma cidade muito bonita e cheia de espaços verdes. Contudo, não devíamos ser maldosos, porque os pobres habitantes de Giessen não têm a possibilidade de criar tantos espaços verdes na cidade."

***

Moral da estória:
I. Aimêdês existe e no fim-de-semana passado estava bem disposto.
II. Se andarem pelo centro da Alemanha, tipo Frankfurt ou Kassel, pensem em dar um salto a Gießen para visitar o Mathematikum. Vejam quando há visitas guiadas (uma hora), e não se acanhem a pedir explicações aos assistentes do museu que estão espalhados pelas salas. Levem muito tempo, e máquina fotográfica.

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