- J'y arriverai jamais, m'sieur.
- Tu dis ?
- J'y arriverai jamais !
- Où tu veux aller ?
- Nulle part! Je veux aller nulle part !
- Alors pourquoi as-tu peur de ne pas y arriver ?
- C'est pas ce que je veux dire !
- Qu'est-ce que tu veux dire ?
- Que j'y arriverais jamais, c'est tout !
- Écris-nous ça au tableau: Je n'y arriverai jamais.
Je ni ariverai jamais.
- Tu t'es trompé de n'y. Celui-ci est une conjonction négative, je t'expliquerai plus tard. Corrige. N'y, ici, s'écrit n apostrophe, y. Et arriver prend deux r.
Je n'y arriverai jamais.
- Bon. Qu'est-ce que c'est que ce "y", d'après toi?
- Je sais pas.
- Qu'est-ce qu'il veut dire?
- Je sais pas.
- Eh bien il faut absolument qu'on trouve ce qu'il veut dire, parce que c'est lui qui te fait peur, ce "y".
- J'ai pas peur.
- Tu n'as pas peur ?
- Non.
- Tu n'as pas peur de ne pas y arriver ?
- Non, je m'en branle.
- Pardon ?
- Ça m'est égal, quoi, je m'en moque !
- Tu te moques de ne pas y arriver ?
- Je m'en moque, c'est tout.
- Et ça, tu peux l'écrire au tableau ?
- Quoi, que je m'en moque ?
- Oui.
Je mens moque.
- M apostrophe en. Là tu as écrit le verbe mentir à la première persone du présent.
Je m'en moque.
- Bon, et ce "en" justement, qu'est-ce que c'est que ce "en" ?
- ...
- Ce "en", qu'est-ce que c'est ?
- Je sais pas, moi... C'est tout ça !
- Tout ça quoi ?
- Tout ce qui me gonfle !
(...)
- J'y arriverai jamais, je vous dis. L'école c'est pas fait pour moi, m'sieur !
(Débat national, mon petit gars, et bientôt séculaire. Savoir si l'école est faite pour toi ou toi pour l'école, tu n'imagines pas comme on s'étripe à ce propos dans l'olympe éducatif.)
Daniel Pennac, Chagrin d'école, 2007, Gallimard
(desde há um ano que este livro é famoso - que é que a editorial Caminho está a fazer, que ainda não o tem à venda em Portugal? Ou desistiu do Pennac? Nesse caso, avise - que traduzo e publico eu, é desta que fico rica.)
Vem este excerto a propósito de uma frase de Alice Vieira numa entrevista ao Público, e da reacção de Rui Bebiano, uma dor boa, sabem?
Naquele livro, Pennac conta sobre o tempo em que ele próprio era le cancre da turma. O seu trabalho angustiado, os bloqueios inultrapassáveis. Uma dor terrível, que quase o levou ao suicídio.
Foca ainda o seu papel de professor, a escola onde os alunos se perdem por labirintos de frustrações consecutivas, o prazer deles ao descobrirem que afinal são capazes de y arriver, e o papel dos pais e da sociedade em que os nossos filhos crescem.
Um livro que oferece mais questões que respostas.
A começar pela pergunta: como agarrar um aluno? Como salvar um aluno da descrença de si mesmo?
Admito que a Alice Vieira tenha razão - que haja uma certa tendência em transformar a escola numa disneylândia do saber.
Mas será que o contrário de uma escola divertida é uma escola que dá trabalho, que faz doer?
E como é que se ensina a trilhar os caminhos dessa dor que vale a pena?
Eu sou mais "quem corre por gosto não cansa".
Permitam-me uma comparação: subir ao cume do Evereste. Não será um guia disfarçado de palhaço que me fará chegar lá, nem alguém que me obrigue a subir ao ritmo de terceiros.
Só o meu entusiasmo, a vontade de responder a esse desafio, uma boa auto-avaliação das minhas capacidades e um profundo respeito por mim própria me permitirão caminhar com segurança.
Já falei disso aqui: uma escola que procura despertar e alimentar nos alunos o gosto de conquistar o saber. Em vez de ter um professor a debitar a matéria, e os alunos todos a aprender esforçadamente ao mesmo ritmo (lembram-se do aluno Einstein, que os professores consideravam inapto?), criar uma escola onde os alunos aprendem a aprender em sintonia consigo próprios.
Ou, como dizem no documentário referido nesse post:
A escola alemã tem-se especializado mais no acto de ensinar que no de aprender.
Pouco se fala da aprendizagem como uma alegria antecipada das crianças em relação às suas próprias capacidades.
Consequentemente, em poucos anos os alunos começam a ir para a escola como quem vai ao dentista.
***
Na semana passada a minha filha de 14 anos (parte da Primária feita numa Montessori americana; outra parte feita numa Jenaplan alemã) fez na escola uma palestra sobre terramotos. Foi à Biblioteca buscar uma meia dúzia de livros, aprendeu quase sozinha a trabalhar com power point, e pediu-me para assistir ao seu ensaio geral. Ao vê-la com um cartão numa mão e uma folha de papel na outra, a explicar como é que uma zona de subducção funciona, pensei: abençoada a escola que ensinou a minha filha a inventar maneiras de compreender o que ouve!
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