A vida (diz a Abrunho, em crise de mau feitio) seria como aqueles sítios que nunca visitamos porque estão perto e um dia quando houver tempo passamos lá.
ou (digo eu, em crise de meia-idade):
A vida é como aqueles sítios que nunca visitamos porque estão perto. Um dia, quando houver génio, iremos lá.
O que me lembra este poema de Rilke:
Das ist die Sehnsucht: wohnen im Gewoge
und keine Heimat haben in der Zeit.
Und das sind Wünsche: leise Dialoge
täglicher Stunden mit der Ewigkeit.
Und das ist Leben. Bis aus einem Gestern
die einsamste Stunde steigt,
die, anders lächelnd als die andern Schwestern,
dem Ewigen entgegenschweigt.
É isto a nostalgia: morar nas ondas
e não ter pátria no tempo.
E são isto os desejos: mansos diálogos
entre o quotidiano e a eternidade.
E assim vai a vida. Até que de algum passado
se erga a mais solitária das horas,
que, sorrindo diferente das suas irmãs,
se entregue silenciosa ao eterno.
Berlim-Wilmersdorf, 3 de Novembro de 1897.
***
Rilke.
Quando fomos morar para Weimar, encontrámos um apartamento mesmo em frente à casa dele. Meu vizinho, a bem dizer...
Era apenas o seu arquivo, organizado pela filha Ruth, que de 1933 a 1949 esteve ali albergado. Já estivera anteriormente em duas outras casas, e depois daquela mudou ainda duas vezes. Mais um que mora nas ondas e não encontra pátria no tempo.
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