26 novembro 2008

um jardim infantil na floresta

O Lutz traduziu uma entrevista do Spiegel online, na qual um neurocirurgião fala do contexto em que os nossos filhos crescem. Acusa ele o controlo, a falta de margem de manobra em liberdade e a coarctação da curiosidade natural como responsável pelo surgimento de uma geração de jovens adultos desmotivados e desprovidos de capacidade de iniciativa.
A acompanhar o artigo vem esta fotografia de um grupo de crianças cujo infantário funciona na floresta.



Resumo do pouco que sei sobre estes projectos:
- tendo em conta o ditado alemão que lembra que "não há mau tempo, só há roupa inadequada", vestem às crianças roupa confortável, resistente e a condizer com as condições climáticas (na foto, vêem-se as típicas calças impermeáveis que vão quase até ao pescoço, o que permite aos miúdos brincarem na lama sem ficarem todos molhados);
- o infantário não tem edifício; há uma hora certa para se encontrarem todos na paragem do autocarro, na estação de caminho de ferro ou à entrada da floresta;
- os miúdos passam a manhã na natureza, sem brinquedos, nem livros, nem cadeiras ou banquinhos;
- se chove muito, abrigam-se numa das cabanas que existem junto aos caminhos florestais;
- actividades possíveis: observar a fauna e a flora da floresta, construir cabanas nas árvores ou abrigos da chuva, fazer um dique num riacho, fazer brinquedos a partir dos materiais naturais, apanhar cogumelos no Outono, frutos do bosque no Verão (e aprender quais são os que não se devem apanhar devido ao risco de contaminação com vermes da raposa, por exemplo), etc.

É claro que quando, à hora do almoço, são devolvidos à família, vêm num estado lastimável: sujos, ranhosos, a pele talvez ressequida do frio, as unhas cheias de terra, os sapatos cobertos por várias camadas de lama. Mas passaram uma manhã inteira a agir, a fazer descobertas, a deixar o cérebro vaguear por veredas que não foram preparadas pelos adultos.

À parte as calças impermeáveis, a minha infância na aldeia da minha avó e no campismo na praia foi bastante assim. Se olho para trás, é na liberdade, na simplicidade e na alegria desses dias que encontro as minhas raízes mais profundas - as que me permitem andar agora pelo mundo sem me confundir.

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