26 novembro 2008

aulas de educação sexual

Em resposta a uma gargalhada que dei por causa de um post no Vida Breve, a Snowgaze e a Rita escreveram algumas ideias que me parecem demasiado importantes para ficarem escondidas numa caixa de comentários, e por isso copio para aqui:

Da Snowgaze:

Também não gostei do poste. Eu não tive aulas de educação sexual, mas tinha professores que de vez em quando (leia-se: de cada vez que aparecia uma aluna grávida) nos davam um sermão sobre o assunto. Não chega. Numa terreola no meio das montanhas, é preciso aulas de educação sexual, até mais do que as obrigatórias aulas de religião. (...) Os miúdos precisam de saber o que não vem nas embalagens dos preservativos, e nem sempre aprendem em casa porque há muitos pais que preferem insistir que "não façam" e enfiar a cabeça na areia. Precisam de saber onde ir quando precisarem de ajuda, porque nem todos os pais estão disponíveis e nem todos os filhos estão à vontade com os pais para falar de sexualidade. Ridicularizar a questão porque os meninos (alguns meninos) não se sabem manifestar ou preferem faltar às aulas é pura e simplesmente perder a razão. Em demasiadas coisas na vida não se pode tomar a parte pelo todo, e a julgar pela enormidade da taxa de gravidezes na adolescência em Portugal, este assunto não está para comentários do género "leiam as instruções na embalagem dos preservativos".
E mais uns exemplos. É típico de rapazes portugueses (não sei se de homens também ) quererem ter relações sem usar preservativo e insistirem nisso mesmo depois de ouvirem vários nãos. É normal os rapazes portugueses baterem nas namoradas. Posto isto, como é que se pode dizer que a educação sexual (e cívica) não faz falta?


Da Rita:

Exacto. Assino por baixo da Snowgaze. Eu tenho toda a minha educaçao contraceptiva da revista Ragazza. No que só a este detalhe diz respeito, era muito boa, mais uns livros que me ofereceram mas não lhe chegavam aos calcanhares. Os rapazes não lêem nada do género, pelo que nem quero imaginar. Dirás, ouvem os amigos, os primos mais velhos, algo assim. Pois sim, mas é como jogar àquele jogo do telefone, em que vamos sussurrando mensagens de uns para os outros e nos rimos muito sobre o disparate que saiu no fim.

O que eu sei é: eu, em família esclarecidíssima mais os livros mais a revista Ragazza ainda consegui ter as dúvidas mais incríveis. E mais: ouvi as dúvidas mais incríveis de pessoas cultas e inteligentes. E conheço muitos casos do "menino nao usa preservativo" ou do "o meu namorado diz que se nao for para a cama com ele me deixa". E a maior parte das pessoas que conheço nunca perguntaria nada disto aos pais. Dos disparates à chantagem: tudo isto se resolvia com malta esclarecida: dos órgaos, dos contraceptivos, dos direitos, do que é e nao é legítimo pedir-se, etc.

Ridicularizar manifestações dos estudantes, que quase nunca são muito espontâneas, e chamá-los de preguiçosos é demasiado fácil. Claro que são em parte preguiçosos, é um sinal de inteligência. Ridicularizar estudantes que confessam a sua ignorância e querem ser educados num tema que julgam importante, é criminoso, mesmo (se calhar dá jeito, porque isto às tantas contrariava a parte da preguiça). E ridicularizar a participaçao na vida pública e democrática de estudantes ainda não maiores de idade, porque ainda nao têm a maturidade de formular de forma melhor o que querem dizer, é um bom investimento.

Assim podemos daqui a uns anos queixarmo-nos de que não participam na democracia e não votam. Às tantas estao a tratar dos filhos que tiveram com 15. Ou a lembrar-se do que escreveram os blogues da última vez que abriram a boca.

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