A minha vizinha, aqui de Berlim, passou uns dias em Lisboa.
Disse-me que achou a cidade muito pior que há sete anos, quando lá esteve pela primeira vez.
A pobreza, o estado degradado das casas, dizia ela.
Tanta mudança em apenas sete anos?, admirei-me eu.
Parece que se perdeu a tentar subir para o castelo, e andou a subir e a descer escadas e ruelas numa encosta qualquer. Não me disse qual, mas pareceu-me que não seria Alfama, nem nenhum dos bairros que vêm nos guias turísticos.
Era um bairro com muitos muçulmanos, dizia ela.
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A minha vizinha, lá de Portugal, passou uns dias em Lisboa.
Já aqui falei dela uma vez: é aquela mulher de 32 anos que já trabalha há 20, e não conseguiu ainda sair do salário mínimo. Apesar das Novas Oportunidades não pode continuar os estudos porque não tem carro nem boleia para as aulas nocturnas. Transportes públicos? A camioneta precisa de mais de uma hora para fazer os 12 km que a separam da cidade, e às sete da manhã já está a sair de novo para o trabalho.
Andou a poupar durante anos, e foi agora passar três dias a Lisboa. Pela primeira vez na vida.
Regressou feliz. Firmemente decidida a voltar, e a pôr de lado todos os meses algum dinheiro para poder entrar nos sítios onde não entrou desta vez por serem demasiado caros. O jardim zoológico, por exemplo.
Fiz-lhe um circuito para "Lisboa por pouco dinheiro". A Expo, a travessia no Cacilheiro, a autêntica fábrica de pastéis de Belém, os eléctricos. Coisas assim. Se tiverem mais sugestões, agradeço. Eu, e mais três mulheres do Portugal real, que vão atravessar onze meses de fábrica de confecções com a miragem de quatro dias de férias em Lisboa.
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Se houver por aqui alguém ligado ao Governo, ou a algum lobby, deixo uma sugestão: acesso gratuito a museus e outras instituições culturais para estes portugueses cujo salário mal chega para pagar a alimentação, quanto mais a cultura.
Aliás (isto são os meus neurónios a entrar em autogestão), aí está um bom aproveitamento para o cartão do cidadão: se o cartão contém o número do contribuinte, talvez pudesse incluir uma informação suplementar das Finanças para as bilheteiras, para que o seu portador tenha acesso gratuito ou com desconto a certos equipamentos culturais.
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