Há alguns anos, um adolescente contou-me que tinha feito uma visita escolar ao Parlamento, e que tinha gostado, e que tudo tinha corrido muito bem porque não havia perigo, o Paulo Pedroso não estava lá.
Algo me diz que agora acredita que o Paulo Pedroso só se safou porque tinha bons advogados, e que isto da Justiça é só truques, e agora, olha, vai pagar o pobre do contribuinte pela esperteza dele, Este país, já se sabe, é sempre a mesma coisa!
Um pormenor curioso: o pai desse rapaz é daqueles professores capazes de meter atestado médico para ir de férias com a família.
É isto que mais me assusta em Portugal: a profunda desconfiança no sistema, a par de um humor desesperado - essa necessidade compulsiva de fazer uma piada por mais indigna, injusta e corrosiva que seja. E assim se vai levando a vida.
Nem sei se isto é um ciclo vicioso, se é uma lapalissade: quanto mais vemos os acontecimentos pela sua pior versão, pior tudo nos parece.
Por outro lado, ao afirmar tão peremptoriamente que "isto é tudo uma corja" damo-nos uma boa desculpa para termos, à dimensão da nossa vidinha, alguns comportamentos enfim, digamos, pronto, pá, não muito correctos. Afinal de contas, se "eles" podem, porque é que eu não havia de poder? Eu é que não sou parvo!, como diz o outro.
A propósito do Paulo Pedroso, se não leram já, vejam também o que dizem o Lutz e o Miguel Silva (a ralé e a ralé (2) ).
Quanto a mim, sobre a tragédia de um homem que poderia ter dado tanto ao país e a quem nunca mais devolverão o seu bom nome, só me ocorre chamar as carpideiras para lamentarem o meu Portugal, e este poema de Sophia:
PRANTO PELO DIA DE HOJE
Nunca choraremos bastante quando vemos
O gesto criador ser impedido
Nunca choraremos bastante quando vemos
Que quem ousa lutar é destruído
Por troças por insídias por venenos
E por outras maneiras que sabemos
Tão sábias tão subtis e tão peritas
Que nem podem sequer ser bem descritas
Livro Sexto, 1962
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