10 setembro 2008

alguns apontamentos sobre a minha experiência internacional com livros escolares

(hehehe
isto saiu-me um título e peras!)

Vem este post a propósito da crítica do Rui Bebiano à actual situação que obriga famílias a endividarem-se para comprar os livros escolares.

A minha filha fez os dois primeiros anos numa escola privada, Montessori, em San Francisco. Não comprei um único livro.
A professora ia dando fotocópias e revistinhas aos miúdos, conforme o que lhes convinha no momento.
Verdade seja dita, naquela escola os currículos eram feitos à medida dos professores disponíveis. Por exemplo: no ano em que contrataram uma professora especializada em arte e espanhol, puseram todas as crianças a aprender espanhol e a fazer obras de arte fantásticas.
E custava 600 dólares por mês. O que uma pessoa não faz para evitar que os seus filhos vão parar àquelas escolas com detectores de metais à porta...

Na Alemanha, cada Land tem o seu próprio Ministério da Educação. Na Turíngia e em Berlim, as duas regiões que conheço bem, os livros escolares são emprestados pela escola.
Tem um inconveniente: se os professores de determinada área escolhem um manual, e se se verificar depois que afinal não era muito bom, vão ter de conviver com ele cinco anos seguidos.
E uma enorme vantagem: o material complementar (cadernos de exercícios, etc.) que os pais têm de comprar não ultrapassa o limite previamente definido pela escola. Para nós, tem sido entre 30 e 50 euros por ano.

Dado que a Turíngia está perto da bancarrota, houve um ano em que o Ministério decidiu exigir dos pais a comparticipação na compra dos livros escolares. Dependendo do número de crianças no agregado familiar e dos rendimentos da família, era pedido um pagamento anual de cerca de 30 euros. Os pais pagaram sob protesto, o caso foi para tribunal, e o Estado acabou a devolver esse dinheiro aos pais. Se bem entendi, esse procedimento tinha dois erros graves: o Estado demitia-se da sua função de garantir ensino gratuito para todos, e a empresa privada a quem a gestão do processo fora entregue tinha acesso a dados sobre o rendimento dos agregados familiares, dados esses que deviam estar protegidos.

Berlim, ao que dizem, já está na bancarrota há muito. Mas ainda vai arranjando maneira de comprar os livros escolares para emprestar aos alunos.
Na escola pública berlinense que conheço os professores, no fim do ano lectivo, põem em contacto os alunos de dois anos consecutivos, para aquisição dos cadernos de exercícios usados. Ou seja: se os livros comprados pelos pais forem usados com cuidado, é possível recuperar parte do seu custo, vendendo-os aos alunos que vão precisar deles.

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Há tempos andei a pensar em ocupar um nicho de mercado em Portugal: uma empresa na internet para troca de livros escolares usados. Mas parei, ao considerar os custos dos correios.

Pensando bem, o mais fácil seria as escolas optarem por um livro para usar cinco anos, comprá-lo e emprestá-lo aos alunos. Podia até pedir-se aos pais uma comparticipação, que nunca seria mais do que um quinto do que agora são obrigados a gastar.
Ou, pelo menos, optarem por um livro para cinco anos, permitindo aos pais encontrar na sua escola compradores para os livros usados.

(Bem sei que estou a estragar o arranjinho aos professores que escrevem os manuais e aos editores que os colocam no mercado com uma pressão estonteante, mas, tenham lá paciência, é por uma boa causa...)

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