04 abril 2008

um caso de internet e vários olhares sobre o respeitinho nas escolas

A Christina chegou a casa muito aflita: "vão expulsar um aluno da minha escola, porque andou na internet usando o nome de um professor."
Dias mais tarde, chegou a casa ainda mais aflita: "vão expulsar metade dos alunos do meu ano, porque criaram na internet um chat room para dizer mal da professora de francês."
A escola dela é privada, católica, e tem sempre muitos mais interessados do que vagas. De modo que escolhe os alunos (isto é, as famílias) a dedo, e está à vontade para recusar os que não dão provas de uma determinada estatura moral.

Fiquei incomodada com esta maneira de resolver os problemas, e de transmitir aos alunos - num ambiente cristão! - essa ideia primária de crime e castigo, e que quem tem a faca e o queijo na mão não é obrigado a explicar e a dialogar com os que erraram.
E tive muitas saudades das escolas de Weimar, onde os professores defendiam os alunos contra os próprios pais (lembro-me de uma reunião em que estes pediam mais disciplina e mão mais forte, e os professores sorriam e diziam "eles não são tão maus como os pais pensam").

Fui falar com a directora de turma da Christina, que ficou muito surpreendida com a versão dada pelos alunos.
Informou-me que em momento algum a escola pensou expulsar alunos.
O que foi feito:
- O aluno que andou a fazer de professor foi mudado para outra turma;
- Os alunos do grupo "Anti-Schmidt" foram "convidados" a participar num colóquio organizado pela empresa que mantém o site, justamente para discutir como se fala com as pessoas e sobre terceiros na internet;
- Os professores explicaram às turmas que uma coisa é sair da aula e dizer "a Frau Schmidt é uma esta e uma aquela", e outra coisa é escrevê-lo. E perguntaram aos alunos como é que eles se sentiriam se lessem na internet o que um grupo qualquer andava a escrever sobre eles.
Tudo bem. Enfim, mais ou menos bem: porque é que os alunos se lembraram logo do perigo de expulsão? E como é andar numa escola onde, mesmo que os professores não digam nada, os alunos sentem esta espada de Dâmocles sobre a cabeça?

Contei o episódio a uma amiga que é professora num liceu de Weimar. Ela riu-se, disse que na escola dela aconteceu exactamente o mesmo: os alunos fizeram um chat room para dizer mal de um professor. Quando se descobriu, os professores ficaram em estado de choque, fartaram-se de falar sobre isso, e resolveram convidar o pai de um dos alunos, um juiz, para discutirem os aspectos jurídicos da questão.
O juiz: "Quando andavam na escola, nunca escreveram na porta do quarto de banho que a professora fulana é uma chata? Os nossos filhos fazem o mesmo que os pais deles já fizeram, mas recorrem a outros meios. E isto faz parte do ofício do professor - quem não aguenta que falem assim mal dele, devia procurar outra profissão."
Conclusão rápida: os chat rooms são a nova casa de banho das escolas.

Contei o episódio a amigos americanos. Ela é professora numa escola Montessori, ele é director de uma escola de adultos. Quando falei do grupo "anti-Schmidt", comentaram: "mas isso é fundamental para uma escola! receber feedback dos alunos sobre o desempenho dos professores!"
Pois, vêm com estas modernices, e depois queixam-se que são alvos de antiamericanismo primário...
;-)

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