Jenaplan é um tipo diferente de escola, centrada mais no conceito de educação que no método de ensino. As relações humanas e a pedagogia são mais importantes que os programas.
A questão central é: como é que a comunidade educativa deve funcionar para permitir que uma pessoa transforme a sua individualidade em personalidade?
À comunidade escolar pertencem três grupos: professores, alunos e pais
Os pais estão presentes nas aulas, nas oficinas, nos projectos, nas festas e nas viagens escolares - e também desse modo a escola deixa de ser uma instituição de ensino para ser uma instituição de educação.
Aposta-se no trabalho de grupos onde se misturam anos, sexos e capacidades. Cada turma nuclear tem alunos de três ou quatro anos consecutivos (se é apenas escola primária, os quatro anos; nas escolas primárias e secundárias, dividem-se os 12 anos de escolaridade em grupos de três anos: do primeiro ao terceiro, do quarto ao sétimo, etc.).
A avaliação por parte do professor é vista como um risco. É muito mais importante que o aluno seja capaz de se auto-avaliar, num processo em que o professor toma parte mas não é figura central.
Os meus filhos andaram na escola Jenaplan de Weimar. Belos tempos.
O que apreciei especialmente:
- a pergunta aos pais, quando inscrevem os seus filhos na escola: quantas horas por semana quer dar à escola? e: como vai contribuir para o funcionamento da escola?
- o aspecto lúdico: rituais de festas ao começar a semana (os professores fazem sketches divertidos para apresentar o tema da semana) e ao terminar (a festa da sexta-feira é preparada pelos alunos);
- o plano de trabalho que cada aluno recebe para a semana, com um conjunto de tarefas, que o obriga a organizar o seu tempo;
- a avaliação semanal: "querida Christina, esta semana deu mesmo gosto ver como trabalhavas e como ajudaste Fulano" ou "querido Matthias, reparei que não tiveste tempo de acabar todas as tarefas. Dou-te um conselho: da próxima vez não gastes tanto tempo a fazer o desenho, mesmo se fica mais bonito com todos esses detalhes." ou "querida Christina: reparei que a tua letra está estranha - o que se passa contigo?"
- as semanas de projecto, realizadas com a ajuda dos pais;
- as reuniões mensais dos pais e da professora da turma nuclear, onde se dá conta do que aconteceu durante o mês e se fazem planos para as semanas seguintes.
O projecto de uma escola Jenaplan em Weimar nasceu há 15 anos da iniciativa conjunta de professores e pais que exigiam mais do que aquilo que a escola tradicional oferece. O projecto desenvolveu-se no meio de um grande entusiasmo, e com uma entrega total de todos. Trata-se de uma escola estatal, gratuita e pobre como todas, com um projecto-piloto.
Infelizmente, ao fim de dez anos e algumas convulsões na política regional da Educação, começou a apresentar rupturas. Dois dos erros mais graves foram a transferência sem critérios de professores e a aceitação de crianças/pais que não se identificavam com o projecto da escola.
Devido a essa crise, alguns professores e pais passaram um fim-de-semana inteiro em reunião para voltar a sonhar a escola.
O texto que se segue é uma espécie de brain storming, e acompanhou o convite para essa reunião.
Pouco elaborado - o texto alemão não está muito melhor que a tradução -, com propostas que precisam de muita discussão, mas um elemento importante para trazer todos de volta ao que é fundamental no projecto Jenaplan.
A escola deve ser um lugar convidativo.
Espaços claros e agradáveis! Uma atmosfera de aprendizagem que estimula! Por todo o lado: portas abertas!
Acesso às oficinas e, quando necessário, "ilhas de aprendizagem" (Lerninsel: grupo para trabalhar um tema específico, com tempo suficiente e independente do ritmo normal das aulas) - porque a escola é também laboratório, espaço de experiências.
Os alunos devem sentir-se bem-vindos, devem sentir a escola como um espaço de cultura e de pertença social. Devem reconhecer a própria vida reflectida na escola.
Queremos muito verde para estas crianças. O pátio da escola deve ser um biotop, um jardim para se esconder, para se refugiar depois do trabalho extenuante. Os alunos devem ter a liberdade de cavar a terra, subir às árvores, brincar nos montes de folhas secas.
Ao começar o dia na escola, as nossas crianças devem sentir-se bem com as pessoas que aqui encontram. Devem ter uma sala reservada para acordar suavemente, talvez com um livro na mão, talvez a ouvir música para um agradável despertar.
Os alunos "grandes", os do décimo ano, que encontram no corredor, não lhes provocam medo. Neles vêem um conselheiro amigo, que simplesmente já está há muito mais tempo na escola. Os alunos "grandes" olham para os "pequeninos" do jardim infantil e da pré-primária com uma mistura de tolerância e atenção - afinal de contas, ainda se lembram bem de como eram naquela idade.
À hora de almoço todos se encontram - mais do que comer em conjunto, trata-se de transmitir uma cultura de estar à mesa. Professores e alunos comem juntos.
Os professores têm o papel de anfitrião, pessoas que acompanham o processo de aprender, que deve ser organizado de forma o mais possível autónoma. Ensinam segundo o princípio "individualização e cooperação".
Têm tempo para esbanjar. Estão na escola durante todo o horário de trabalho: das 8 às 16 horas, tal como os alunos.
Amam os alunos, sabem que cada aluno é um ser único e respeitam a sua personalidade, que querem conhecer melhor. A regra mais importante para os professores é encorajar os alunos - encorajá-los para que ousem algo, para se esforçarem de modo a atingirem os seus próprios objectivos. Os alunos recebem um retorno positivo dos professores. O trabalho é avaliado de modo a reconhecer os progressos realizados e a definir as próximas etapas. Essas etapas são definidas pelos próprios alunos porque - os professores estão cientes disso - só se é capaz de aprender aquilo que se quer aprender. Uma avaliação por meio de testes é inadequada. Os professores têm a ambição de responder às particulares necessidades de aprendizagem de cada aluno, acompanhar cada aluno individualmente no seu caminho de aquisição de conhecimentos. Para isso, trabalham em conjunto com outros profissionais: ergoterapeutas, especialistas de pedagogia social e animação de tempos livres, psicólogos escolares. Estes profissionais são colegas, fazem parte da equipa escolar, conhecem bem os alunos e estão sempre disponíveis.
Os pais são os primeiros especialistas dos seus filhos e, por isso, o interlocutor mais importante dos pedagogos.
A base do sucesso da aprendizagem de cada criança particular é um trabalho conjunto, baseado na confiança e na transparência.
Na nossa escola, os alunos de diferentes grupos etários encontram no professor uma importante pessoa de referência. A continuidade da relação professor-aluno tem de ser assegurada, e a passagem para um novo grupo tem de ser suave.
Cada grupo desenvolveu os seus próprios rituais, oferece uma estrutura e laços sociais fortes. Simultaneamente, o grupo reconhece-se como parte da escola e identifica-se com o todo.
Por outro lado, o grupo não é uma formação estática, podendo reagir de forma flexível a diferentes situações de aprendizagem.
Se um projecto o exigir, podem criar-se grupos de interesses com carácter temporário.
O potencial que reside na mistura de três anos é por nós reconhecido e capitalizado.
Na nossa escola, as crianças têm voz. A interiorização da prática democrática é um objectivo importante, e experienciado no "parlamento escolar", que reúne alunos e adultos para, em conjunto, tomar decisões sobre a escola.
Para além disso, os adultos criaram outras plataformas para orientação da escola. Há a assembleia geral, e uma equipa de direcção escolar que funciona segundo um princípio de rotatividade. As vias de comunicação são directas e eficientes. Os adultos têm várias possibilidades de comunicar de forma positiva e factual. Novos grupos de intervenção na escola são vistos como enriquecimento e são legitimados.
Na nossa escola, os alunos aprendem a reconhecer e a desenvolver a sua identidade cultural. Devem encontrar o seu lugar no mundo. Confrontam-se com as questões: quem sou eu? de onde venho? como será depois?
Estas questões estão ligadas ao conhecimento da natureza, da história, das religiões e dos valores éticos, dos nexos da vida.
Desporto não é uma disciplina escolar, mas uma resposta às necessidades naturais de movimento.
Uma aula onde se pretende descobrir conexões não pode ser cortada em unidades de 45 minutos. Queremos dar boas aulas, com tempo suficiente para investigar os temas a fundo.
Os professores permitem que os alunos alarguem o seu campo de aprendizagem. "Para fora da escola" e "profissionais à escola" são dois princípios básicos. Entendem a escola como elemento central da vida do bairro, trabalham em rede com parceiros de fora da escola e criam uma rede social dentro dela, da qual também faz parte o contacto com os antigos alunos e professores e a relação com idosos.
Na nossa escola fazem-se festas formidáveis, permitindo aos alunos, aos pais, aos pedagogos e a todos os parceiros e amigos da escola fazer a experiência de uma comunidade viva e diversificada. Estas festas enriquecem o horizonte cultural da cidade, transformam-se em acontecimento que torna as pessoas mais conscientes da realidade da nossa escola.
Na nossa escola existem critérios para inscrição de novos alunos que permitem a manutenção e o desenvolvimento deste perfil pedagógico. A dimensão é um factor importante: 300 alunos é o número ideal.
É possível dar aos nossos alunos a obtenção de diplomas intermédios, para permitir a eventual passagem para outras escolas.
A nossa escola tem a necessária autonomia para escolher os seus funcionários. É possível ter uma política de pessoal autónoma e processamentos administrativos definidos pela própria escola.
A escola está sob a alçada e e é financiada de forma conjunta pelo Estado e por uma entidade privada.
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