As gémeas, de quatro anos, mostraram-me todas orgulhosas as suas pastas com os trabalhos do colégio. Eram iguais! A mesma maçã pintada de vermelho, a mesma página preenchida com a mesma letra, o mesmo tema de desenho.
Pensei nos meus filhos, a quem todas as manhãs a educadora perguntava "em que queres trabalhar hoje?" - que diferença!
A educadora andava preocupada com o irmão delas, dois anos mais velho, que não acompanhava o rendimento dos outros. Sugeriu que lhe dessem ritalina.
Ritalina? Quem precisa de ritalina é uma escola assim, não são os alunos!
O futuro não passa por crianças que são "enformadas" a partir dos três anos de idade. E crianças que são drogadas para conseguirem acompanhar o ritmo do grupo.
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Conheço uma miúda que toma ritalina desde os oito anos.
Perdeu apetite e ganhou uma espécie de impertinência artificial, mas conseguiu entrar na via de ensino mais exigente, e a turma deixou de a excluir (perdiam a paciência com a sua lentidão e o ar de sonhadora).
Antes de os pais a meterem na droga, tentámos outra solução: passou uma semana numa escola Jenaplan (a turma do Matthias), para ver se o problema era a escola e não a aluna.
A turma arranjou-lhe uma amiga especial para essa semana. E a menina trabalhou com prazer, integrou-se no grupo, fazia os deveres sem chorar nem ficar parada a pensar na morte da bezerra, sem ficar bloqueada.
Também é verdade que fazia os deveres comigo, e eu não estava stressada, nem com medos existenciais sobre o futuro dela, nem andava a correr entre o meu trabalho o supermercado e o jantar ( o que aponta para outra questão importante: é possível falar da escola sem falar no papel dos pais?).
Vi-a na quinta-feira, no palco da escola, participando com os outros numa peça de teatro improvisado. Completamente à vontade.
No fim dessa semana a professora disse ao pai que a aluna não tinha problemas graves de compreensão ou integração, e que a solução passava por um acompanhamento especial. Que ela precisava sobretudo de ser elogiada, ver as suas capacidades reconhecidas e confirmadas por um adulto.
Mas na cidade onde eles moram não há esse tipo de escola e a mãe não podia deixar a vida profissional para andar a fazer de motorista, levando a criança todos os dias para uma escola Montessori, mais adequada mas mais distante.
Foi para a ritalina.
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Também conheço alunos que não se deram bem nessa escola de perfil Jenaplan.
De onde se tira uma conclusão: do mesmo modo que as pessoas não são todas iguais nem aprendem todas da mesma maneira, não pode haver apenas um modelo de escola.
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