10 março 2008

falemos, pois, da escola (1)

Entre mim e os meus filhos há muito mais que uma geração de diferença - é quase mesmo um milénio.
Eu aprendi como os meus pais e avós aprenderam, um método a que aqui se chama "bulimia": engolir, vomitar, engolir, vomitar.
Os meus filhos são obrigados a pesquisar na internet, a estabelecer correlações e extrapolações, a ligar elementos de disciplinas diferentes: matemática e arte, inglês e biologia.

Os professores deles afirmam, quase com susto, que ninguém conhece o mundo para onde eles vão. Ninguém conhece. Ensinar-lhes o que vem nos livros, o que nós próprios aprendemos, não basta. É preciso muito mais:
- dimensão ética: num mundo cada vez mais complexo, encontrar a fidelidade a si próprio e as referências necessárias para viver em sociedade
- dimensão social: trabalhar em grupo, aceitar e valorizar a diferença, incluir os mais frágeis
- métodos de pesquisa: aprender não é "marrar", mas investigar em múltiplos planos e recorrendo a múltiplos instrumentos (um truque de um professor do Matthias: manda os alunos investigar na internet, mas dá-lhes palavras-chave que não aparecem no google, de modo a obrigar os alunos a pensar antes de googlear - o exemplo mais recente foi averiguar se no nosso tempo ainda existem "reis eleitos")

A função principal da escola não é transmitir saber, mas formar um indivíduo capaz de avançar autonomamente e com passos seguros num futuro cada vez mais complexo.

Talvez seja consequência desta perspectiva, ou talvez seja sinal de algo muito maior: o leque de profissões escolhidas pelos jovens está a alargar-se a olhos vistos. Médico, professora, condutor de locomotiva, bombeiro - mas também: artista de circo, artesão de tapeçarias, terapeuta com animais, terapeuta de animais,... e um sem-número de profissões, as quais - de tão inesperadas - esqueço logo, não sem antes me perguntar: como é que vão ganhar a vida?!
Como se se ocupassem menos do status profissional, e mais da sua realização pessoal.

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