16 novembro 2007

fui assaltada por um loiro

Doze dias depois de chegar a Berlim, forçaram a porta do nosso carro para roubar o aparelho de navegação GPS. O que nos ajudou a perceber que já não estamos em Weimar, onde esse aparelho andou alegremente pousado no tablier cinco anos inteirinhos sem ninguém se interessar por ele.
Por outro lado, também posso dizer assim: Berlim não é tão perigosa como se diz, porque o aparelho de navegação aguentou 12 dias inteirinhos alegremente empoleirado no tablier.

Como aqui praticamente não há pretos, havendo em compensação uma enorme rede de criminalidade com origem no Leste da Europa, posso dizer - a estatística aí está, que não me deixa mentir, mesmo quando invento um bocadinho - que fui assaltada por um loiro. Há que anos que ansiava por este dia!

***

Ora, se eu até com aparelho de navegação me conseguia perder em Berlim, já imaginam como é agora.
Arrumei o carro, passei a andar de metro.
Nós, o Homem do terceiro milénio, quando perdemos o norte (*) e, de um modo geral, a capacidade de orientação, temos outros recursos. Por exemplo, passamos a andar de transportes públicos, e treinamos o cérebro com sudoku e palavras cruzadas.

Mas seremos mais inteligentes?
Mais inteligentes do que, por exemplo, o pessoal das tribos primitivas que pressentiu a tsunami e se pôs ao fresco, enquanto os turistas na praia filmavam o fenómeno, fascinados?
(Vi um filme desses, em que se ouvia a voz do cineasta amador, "está a acontecer um fenómeno muito interessante... o mar está a afastar-se, lá ao fundo forma-se uma onda muito grande... cada vez maior... wow, nunca vi uma coisa assim!... agora está a aproximar-se da praia... está cada vez mais perto... é enoooorme... aaah... CORRAM! CORRAM! CORRAM! FUJAM!!!")

Como é que se mede a inteligência das pessoas? Como é que se pode comparar a inteligência de pessoas que têm processos de socialização diferentes, ou que vivem em culturas completamente diversas?
Se trocassem os filhos às famílias, pondo as crianças brancas a viver em famílias de pretos e as crianças pretas a viver em famílias de brancos, como seriam os resultados dos testes de inteligência daqui a 10 anos?

Haja um Sherlock Holmes que lhe diga: "elementar, meu caro Watson".



(*) Norte? Sul? Posso dar a volta ao mundo sem ter de me preocupar com esses detalhes: de táxi para o aeroporto, conferir o número da porta para entrar no avião, sair do avião, de táxi para o hotel. Mapa?! Astrolábio?! Quais quê.

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