09 julho 2007

os franceses mais bonitos



Está na Neue National Galerie de Berlim uma exposição com peças do Metropolitan Museum of Art (de momento em obras) que dá pelo belo nome de "Os franceses mais bonitos vêm de Nova Iorque". Título muito mais apetitoso que "Met em Berlim" ou "Pintura francesa do século XIX", ora viva o marketing.

Franceses também os há em Berlim. Aliás, o primeiro museu a expor um Manet era berlinense.
Só foi azar o director (era suíço, às tantas isto é um elemento importante para o relato) desatar a comprar franceses quando se pretendia que ele apoiasse a arte alemã. Um incómodo. Acabou por ser afastado do cargo, e por ter de vender à pressa a última remessa chegada de França. Liebermann, um pintor abastado que encabeçava o grupo dos pintores não-alinhados (a Berliner Secession), comprou-lhe um Cézanne ("Os Pescadores, cena fantástica"). Mas, como Liebermann era judeu e Cézanne não era propriamente do agrado dos nazis, o quadro foi enviado para os EUA com a parte da família que escapou ao Holocausto, e foi assim que acabou no Met em NY. Voltou agora, para rever os cenários da sua juventude, estava com um ar contentinho.

Seja como for, em Berlim está uma exposição magnífica do Met. A Alte Nationalgalerie bem tentou misturar alguns dos seus quadros, lembrar ao público de Berlim que "nós também temos franceses", mas o pessoal do marketing do Met não é parvo. Que isto não é só cultura, isto é sobretudo publicidade.

Se me pedissem a opinião, quando acabasse esta exposição começava logo outra, no mesmo espaço talqualmente, com a mesma organização de épocas e tendências, para mostrar os franceses de Berlim. Chamar-lhe-ia "Ich bin ein Berliner!", ou algo do género. Mas não me pedem a opinião, é o azar deles, e em vez disso criam uma exposição paralela na Alte Nationalgalerie, com o inspiradíssimo nome "França na Alte Nationalgalerie". Wow.
A ver se lhes mando uma garrafita de vinho do Porto, talvez ajude à criatividade.

***

Fui lá com uma amiga. Apontámos para duas horas. Ao fim das duas horas ainda nem tínhamos chegado a meio da exposição. Ficámos mais uma. E mais outra. E com vontade de ficar o dia todo.

Na última sala tem um Modigliani. Jeanne Hébuterne, para variar. Ela está grávida, olha para nós, ou para o pintor, com aqueles olhos de um azul-turquesa indescritível. Pouco tempo depois de pintar este quadro, Modigliani morre de tuberculose. Jeanne, em fase avançada de gravidez, suicida-se.
A exposição conta esta e outras histórias. Mais ainda que mostrar os tais franceses bonitos, os belíssimos quadros, conta das vidas.

Também em inglês.

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