Começo a acreditar que um mundo novo é possível, o lobo ao pé do cordeiro, etc.: este Verão, os Verdes andam em romaria pelas Igrejas, para falar sobre as nossas lógicas de consumo e o futuro do meio ambiente.
Organizam festas e debates no adro e no salão paroquial, mostram o documentário "We feed the world" (austríaco, feito há cerca de 3 anos - recomendo vivamente), sentam-se ao lado de teólogos para falar sobre a nossa responsabilidade perante a Criação.
Verdes, protestantes, católicos, público: e todos se entendem.
Por causa do documentário, que já conheço (na mesma semana vi esse e o "Uma Verdade Incómoda", foi um período quase tão difícil como quando andei a ler "Vaterland"), levei os miúdos à sessão. Estava lá uma turma do 9º ano com a sua professora de religião. Os deputados Verdes estavam todos contentes: para questionar os hábitos de consumo, é justamente este o público que querem atingir.
O debate começou com a apresentação de dois factos:
- Na Alemanha matam-se anualmente mil milhões de pintainhos machos, só porque galos não põem ovos.
- O pão que a cidade de Viena deita fora ao fim do dia é suficiente para alimentar Graz (a segunda cidade da Áustria).
O teólogo lembrou que, na cultura que escreveu o livro do Génesis, dar nome aos animais não significa propriedade, mas responsabilidade. Criticou duramente a lógica da produção industrial de animais, chamando a atenção para o valor intrínseco de um ser da Criação. Independentemente de pôr ovos ou não.
A deputada Verde apresentou uma comparação muito a propósito para o local. Até agora, dizia ela, havia dois tipos de atitude para proteger o meio ambiente - o protestante e o católico. O protestante prescinde: não consumo, pronto. O católico arranja bulas: anda de avião, mas paga voluntariamente uma taxa para o meio ambiente, para que alguém trate de equilibrar o excesso de emissão de CO2.
Ela sugeriu uma terceira possibilidade: cada um pensar melhor no que entende por "vida boa". Será que passa pela possibilidade de poder escolher entre 20 tipos diferentes de pão 10 minutos antes da loja fechar (que é o motivo porque em Viena há diariamente tanto excesso de pão)? Por ter acesso a morangos em Dezembro? Por várias férias anuais? Por um carro potente?
Por causa de uma parte do filme, especialmente chocante, onde se vêem os pintainhos em tapetes rolantes, a cair de uma banda para outra e a piar desesperados, e também por causa das carecadas monumentais que andam a fazer na Amazónia para plantar soja para as nossas galinhas industriais (nos últimos 30 anos destruíram a floresta de um território equivalente à França e a Portugal) o Matthias perguntou que tipo de frangos deve comprar, e onde. A resposta foi: bio, da região, a um preço justo. Já nos lixou uma semana de férias, que o Matthias nunca mais vai engolir carne sem certificado de garantia, e estes consumos responsáveis pagam-se caros.
Mas, como dizia a deputada com um brilhozinho quase perverso nos olhos, "também podemos consumir menos carne".
Depois do debate houve um buffet, e por lá ficámos em amena cavaqueira com o teólogo e os organizadores. A sala já estava quase vazia, as travessas enormes continuavam cheias de comida bio. Tratámos de dar um exemplo para Viena: os últimos participantes agarraram nos sacos, de plástico biodegradável, que os Verdes tinham trazido para distribuir os seus folhetos, e encheram-nos com comida. Passámos o fim-de-semana a roer cenouras, nabos, talos de funcho.
E depois, quando íamos embora, vimos um dos deputados dos Verdes a entrar num valente BMW com motorista e matrícula de Berlim. Preferia tê-lo visto a entrar num comboio ou num Prius.
Embora este BMW com um Verde dentro me dê algum alívio: em matéria de defesa do meio ambiente, cada um sabe de si, e faz o que pode.
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