30 junho 2007

das lógicas do mercado

"Não existe quase nada neste mundo, que alguém não possa fazer um pouco pior e vender um pouco mais barato - e as pessoas que se orientam apenas pelo preço são as merecidas vítimas desta prática.
Se é tolice pagar demasiado, maior tolice é pagar muito pouco. Quem paga um preço demasiado alto, perde algum dinheiro - é tudo. Quem, ao contrário, paga muito pouco, às vezes perde tudo, pois o objecto comprado não pode cumprir a sua missão.
A lei da economia impede que se receba muito valor por pouco dinheiro.
Aceitando a oferta mais baixa é necessário acrescentar algo pelo risco que se corre.
Quem faz isso, então também tem dinheiro suficiente para pagar algo melhor."


John Ruskin
Reformador social inglês (1819-1900)

Traduzido para as palavras de uma velhinha da Suábia: "Nós não somos suficientemente ricos para nos podermos dar ao luxo de comprar barato."

Mas isto era no milénio passado. Hoje é preciso acrescentar: "nem somos suficientemente cínicos para nos podermos iludir a consciência quando compramos barato."
Há muita gente a trabalhar em situação de escravatura para abastecer os nossos mercados.
Não consigo perceber como é que vendem bonecos de peluche a dois e três euros - ou quem os faz trabalha muito depressa, ou recebe muito pouco pelo seu trabalho. E a roupa da moda deste ano, muito bem bordada a pérolas e lantejoulas: como é possível tanto trabalho custar tão pouco?

***

Baralhar e dar de novo: as iniciativas para acabar com o trabalho infantil no terceiro mundo levaram à desagregação familiar. As firmas deixaram de empregar as crianças porque estavam a perder mercado no primeiro mundo, pelo que os pais foram obrigados a partir para longe para tentarem sustentar a família. Os organismos que se tinham empenhado na defesa das crianças aperceberam-se do erro, e mudaram de táctica: as crianças podem trabalhar, mas sob vigilância, de modo a assegurar-se que vão à escola e recebem alimentação adequada.

E agora: compro ou não compro o boneco de três euros?
Mundo complicado.

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