E de novo as Bachwochen na Turíngia - mais um festival de Bach, filho dilecto desta Land.
No sábado passado várias casas de Weimar abriram a porta para saraus familiares de música de câmara ou solistas, e nós partimos à descoberta.
Começámos pela que parecia um conto de fadas: pai maestro, mãe pianista, três filhas cada uma mais bonita que a outra, sendo a mais nova a musicalmente mais dotada de todas. Onze anos apenas, e que beleza de frases tocava no violoncelo!
A Beethoven e Bach seguiu-se um quarteto do príncipe Louis Ferdinand. Se Beethoven o admirava, quem sou eu para dizer que achei a sua música plena de belos momentos mas algo desequilibrada? Digamos então que o rapaz não se chegou a cumprir - outro talento que morreu jovem, numa das batalhas que precedeu a matança de Jena.
A música estava óptima, o ambiente estranho: embora fosse um concerto aberto ao público, notava-se bem que só estavam lá os convidados da família. E eu, que os conheço do supermercado, da loja de produtos biológicos, de outros concertos, de festas das escolas, fiquei sentada num canto a sentir-me penetra...
Seguimos para a casa de uma aprendiz de pianista, que me disseram ser da família de Nietzsche. Numa sala pequena e simples, ouvindo a música de uma mulher que gosta tanto do que faz que nem se preocupa com a falta de qualidade, demo-nos conta de que estes concertos em casas privadas não servem para exibir a perfeição dos profissionais, mas para partilhar o amor à música, o amor ao caminho para a música. De modo que sim, acredito que esta pianista seja da família de Nietzsche.
Fiquei a pensar que, tendo piano e salão com uma vista magnífica sobre Weimar, no próximo ano devíamos participar neste evento. Aconteça na nossa casa a música possível, com quem quiser fazê-la acontecer.
(Talvez fosse boa ideia começar imediatamente a preparar o meu repertório.)
(Pelo sim pelo não, vou convidar alguns músicos profissionais...)
(De onde se prova que Nietzsche não passou pelos meus genes.)
Amigos nossos anunciaram com entusiasmo a apresentação da Paixão Segundo S.Marcos, de Bach, na Herderkirche. A nossa cara de "ah, já sei, conheço muito bem..." só durou até sabermos que esta obra estava perdida, e um músico de Weimar a reconstruiu a partir de peças que a citavam, tendo esta versão sido apresentada no domingo passado pela primeira vez...
Também no domingo foi inaugurada uma exposição sobre a Anna-Amalia, a jovem grã-duquesa que soube juntar em Weimar um número considerável de génios - começou por convidar um universitário, Wieland, para professor do seu filho, e este convidou Goethe, que atraiu Schiller; aos três juntou-se Herder, e um número considerável de intelectuais atraídos pelas sinergias do momento.
E foi assim que uma jovem mulher, em situação de família monoparental, vivendo nesta cidade provinciana em alojamentos precários após o seu palácio ter sido consumido pelas chamas, deu origem a uma época áurea da cultura alemã.
À inauguração compareceram muitos dos seus familiares, o princípe daqui e o duque dali. Fizeram os discursos de ocasião, o blablabla habitual - excepto o príncipe de Sachsen-Weimar, que desafiou a fundação Weimarer Klassik a fazer neste palácio uma exposição sobre Weimar e a identidade alemã: do Humanismo a Buchenwald. A ver vamos.
O Joachim adormeceu durante o discurso do não-sei-quê sobrinho tataraneto da senhora. Eu quase lhe ia dando um encontrão - que coisa, anda uma pessoa a esfalfar-se em nordik walking para conseguir convites para o acontecimento cultural do ano, e ele adormece assim -, mas depois reparei que não era o único. O que por ali ia de cabecear era uma coisa por demais.
Espero que a consanguinidade ataque a vistinha - não haveria necessidade de o pessoal dos discursos perceber que da terceira fila para trás estavam todos a meditar profundamente.
Uma vez, ao folhear uma revista Nova Gente, aconteceu-me algo muito esquisito: aquele pessoal todo a sorrir para o fotógrafo, muito satisfeitos de serem VIPs e Stars, e eu a olhar para eles sem conseguir identificar ninguém. Stars de quê, VIPs porquê? Bem: no domingo aconteceu-me o mesmo, mas ao vivo. Acho que reconheci uma das filhas da Gloria von Thurn und Taxis, mas com esta memória visual de que padeço também podia ter sido a minha irmã. Sabe-se lá.
Do fim de semana cultural fica esta conclusão: Deus dá as nozes, e às vezes o bolor, e a mim as alergias.
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E por falar em nozes: os meus filhos estão neste momento na cidade a vender bombons que fizeram com nozes e chocolate amargo. Chamam-lhe Bio-Montignac-Anna-Amalia-Kinder-Pralinen (sim, dirigem-se a todos os possíveis segmentos de mercado, desde os turistas da cultura, até aos que querem emagrecer com o método Montignac, passando pelo crescente número de consumidores de produtos biológicos). Três euros por 100 gr - vão juntar bom dinheirinho para as férias que começam daqui a nada, depois de escrever este post e fazer as malas para os próximos dez dias.
Boa Páscoa!
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