16 abril 2007

meta-noia

Quase no final do Evangelho de Lucas (Lu. 24,47), ao dar as últimas instruções aos apóstolos, Jesus diz:

"Assim está escrito que o Cristo devia sofrer e ressuscitar dos mortos ao terceiro dia, e que, em seu Nome, fosse proclamado o Metanoian para a remissão dos pecados a todas as nações"

Metanoian?!

Para quem gosta de traduções comparadas, pode ver aqui que metanoian aparece traduzido na Vulgata como poenitentiam e Martinho Lutero continua a mesma linha: Busse.
Até há poucos anos era essa a tradução na Bíblia alemã (fazei penitência), tendo sido recentemente mudado para conversão (umkehren); na minha versão portuguesa aparece arrependimento, e na francesa, repentir.

Atravessei a infância inquieta por causa dessa penitência e do arrependimento cuja necessidade não entendia, e afinal a culpa era da tradução. O São Jerónimo - patrono dos tradutores - que se cuide, que de castigo ainda o passam a beato por uns anos.

Voltando às fontes e a esse Meta-, do grego metá (além de; para além de):

"Assim está escrito que o Cristo devia sofrer e ressuscitar dos mortos ao terceiro dia, e que, em seu Nome, fosse proclamada a mudança para pensar em dimensões mais amplas com vista à remissão dos pecados a todas as nações".

Isto sim: para deixar uma mensagem destas é que vale a pena morrer e ressuscitar.

E eis como me descubro mais papista que o Papa: missa em latim?! Evangelhos em grego!



PS1. Depois de meia semana dedicada à análise literária e teológica do último capítulo de Lucas, seguida de uma semana em Taizé, cuidado comigo - nem preciso de acender a luz da mesinha de cabeceira, leio à luz da auréola.

PS2. Nada de ilusões. Além de meta, só conheço mais duas palavras em grego: kalimera e tzatziki.

Sem comentários: