Quando pensava que já nada me podia surpreender em questões de funerais (desde jazz de New Orleans junto à campa, até famílias californianas que saem de barco para deitar as cinzas ao mar, sob a Golden Gate Bridge), mais uma vez sou ultrapassada pela realidade que ultrapassa a ficção: há quem se deixe transformar em diamante. As cinzas são sujeitas a altíssimas temperaturas durante uma semana, e no final a família recebe um diamante com a forma desejada (oval, rectangular, de coração, etc.) e, ao que dizem, brilho e reflexos únicos, tal como a pessoa que lhe deu origem.
É bonito.
Até mostraram uma mulher que queria dar origem a dois diamantes, um para cada filho, de modo a estar sempre com eles, para onde quer que eles fossem.
("oh querido, põe a tua mãe no outro quarto")
Só não me dá jeito pensar na possibilidade de um ladrão levar a avó no bolso, de o avô rolar por entre as frinchas do soalho...
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Por outro lado, numa sociedade cada vez mais móvel, qual é o lugar dos mortos?
Eu, por exemplo (salvo seja): portuguesa com filhos alemães que não sabem a que cidade pertencem por já terem vivido em tantas.
A minha sorte é que quando for preciso decidir isso, já cá não estou...
Diamante é que nem pensar. Ainda vou parar a um anel de alguma antipática, e nem tenho a possibilidade de dar voltas na tumba.
Não. Prefiro as larvas, são mais ecológicas.
(A minha sorte é que quando elas vierem, eu já cá não estou...)
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