05 março 2007

caderno de viagem

Avião da Ryan Air, às seis e meia da manhã. Para não repetir.

A Christina está de muletas, pede a uma hospedeira que a deixe ir à frente. A hospedeira diz que tem de pagar uma taxa suplementar para ser a primeira a ir para o avião. Feitas todas as contas (inclusivamente os 9 euros que é preciso pagar por cada peça de bagagem entregue!), uma passagem ida e volta da Lufthansa não é muito mais cara que uma da Ryan Air. E não é quase no Luxemburgo, e é a horas civilizadas, e ainda sabem tratar bem as pessoas com problemas de saúde.
(No regresso, no Porto, a Christina, de muletas, pede que a deixem passar à frente. O pessoal do aeroporto deixa. Eu, bastante mais atrás, agradeço, e eles respondem: "mas é evidente!" - são de bom tempo.)

Atrás de nós, um grupo de emigrantes barulhentos. Um deles, para esconder o medo de voar, fala pelos cotovelos.
Quando o avião descola, comenta aos gritos "olha o elástico, olha o elástico - aííí! Isto é melhor que sexo!"
A Christina ri-se, o Matthias comenta "ficámos a saber..." e eu penso "deve andar a fazer alguma coisa errado".
Tentar dormir - impossível.

À chegada, surpreendeu-nos o nevoeiro. Que diabo, lamento-me eu, para ter este céu cinzento bem podíamos ficar na Alemanha!
A Christina tentou consolar-me: ao menos não há fogos...

Chegar ao Porto às oito da manhã tem as suas vantagens. Por exemplo, permite ir tomar o pequeno-almoço à pastelaria Marbela, em Esposende. Encomendar um bolo de cada, e comer até rebentar as saudades da doçaria portuguesa. E das tostas mistas. E das torradas.
Comprar raia para o almoço. Passear junto ao mar.

Dormir num quarto onde se ouve o mar.
Projecto para o próximo Verão: acampar junto à praia.

Lampreiada ao almoço de domingo. Explicar aos filhos que é um petisco cada vez mais raro, e ouvir depois os lamentos do Matthias, a contar os milhões de ovos no seu prato e a extrapolar para as lampreiinhas coitadinhas que não nasceram. Por este andar ainda recebe uma cartão gold da quercus.
(Por este andar não lhe posso mostrar a caixa de meio quilo de caviar que encomendei nas minhas Russian connections)

Passeio até à aldeia da nossa infância, o cheiro das tangerinas descacadas ao pé da árvore (a aposta antiga: quem consegue meter mais tangerinas na boca?, catorffff, quinffffff!, os risos e os esguichos de sumo), o limoeiro rachado de tantos limões.
(aviso aos amigos: quem quiser limões biológicos, quantos quiser, já sabe onde ir)

Pôr do sol na praia do Cabedelo. Quem disse que não devemos voltar aos sítios onde fomos felizes?
Voltar, sim, e dizê-lo com riso nos olhos: fomos muito felizes aqui!

De tanto nos concentrarmos no quotidiano, vamo-nos esquecendo de festejar a vida.


***

No Modelo de Esposende havia tinto Valado 2005 por 5 euros. Havia, já não há.
E um tinto Chocapalha de 2004 que nem vos digo nem vos conto.

Sem comentários: