21 fevereiro 2007

resposta a um comentário ao post anterior

Lutz,

Isto tudo deixa-me muito confusa:
- Porque é que a questão foi levada a referendo? Quer dizer: o PS não podia alterar a lei como lhe apetecesse, sem fazer referendo?
- Será que este referendo foi, desde o princípio, um mero pro-forma para o PS fazer depois a lei que queria?
- Será que Portugal está a ser governado por gente que entende que os fins justificam os meios? Será que, desde que os fins coincidam com os nossos interesses, estamos dispostos a aceitar essa perversão do exercício do poder político?
- Qual é a viabilidade democrática de um país que não tem razões para confiar no seu governo? Sobretudo a este nível, vejo uma enorme diferença entre o teu país e o meu: aqui, as pessoas podem não estar de acordo com as opções do governo, mas não há esta desconfiança generalizada nos políticos e na política.

Também penso que assuntos como o do aborto deviam ser discutidos e resolvidos por comissões, acompanhados de um debate público feito com seriedade, honestidade e transparência, em vez de passar por estratégias desonestas de caça aos votos.

E, se o que se disse e não disse durante a campanha foi condicionado pelo resultado desejado para o referendo, não venham chamar avanço civilizacional ao que não passa de uma vergonha!
Isto não foi, então, um povo a reflectir, fundar uma opinião e votar o que que entende ser melhor, foi mais uma espécie de circo de engana tolos.

Sobre este assunto, recomendo a leitura do post da Susana.
(como se não tivesses lido ainda...)

Quanto à vinculação do governo àquilo que algumas pessoas (socialistas ou não) disseram durante a campanha: exijo de um governo sério que, se leva um assunto destes a referendo, esteja sensível aos argumentos e às pistas que surgem no debate. Parece-me (embora possa estar enganada pela distância) que, se a questão tivesse sido posta em termos claros de "na sua barriga manda a mulher", o "não" teria tido uma vitória enorme. Por outro lado, depreendo que o aconselhamento seria uma solução de consenso para esta fase do desenvolvimento da sociedade portuguesa.
(E, claro, se se entende que a sociedade é retrógrada, porque é que se deram ao trabalho e ao custo de lhe perguntar a opinião?)

Ou seja: se o PS se sair com uma lei sem prever a possibilidade de aconselhamento, acho muito bem que o Cavaco a vete. E aposto que há muita gente que votou "sim" no referendo e concorda comigo neste ponto.

Finalmente: fiquei na dúvida se esse pessoal do PS que se pronunciou claramente a favor do aconselhamento o fez por cálculo político ou por convicção. Gostaria de ver como reagem ao projecto de lei.

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