18 janeiro 2007

mais uma para o anedotário do homo economicus

Uma vaga de frio recorde atingiu a Califórnia.
Recorde, sublinhe-se.
Em San Joaquin Valley, pomar e horta da nação, estão as tangerinas cobertas de estalactites de gelo, os abacates queimados pelo frio.
Os agricultores, empresários flexíveis e racionais, espalharam aquecedores e chuveirinhos de água quente pelos campos, para tentar salvar a colheita.

Mais um rasgo de génio da prezada espécie, e talvez salvem a colheita. Mas quem salva o planeta das consequências de tanta flexibilidade na optimização do lucro?

E nem se lembrem de discutir, porque já é oficial: a Bildzeitung trazia ontem na primeira página parangonas sobre o aquecimento global e as mudanças climáticas.
Portanto: ponto, final.
Resumido, como só a Bildzeitung sabe fazer, é mais ou menos assim: a Terra está a aquecer, vai haver enormes inundações, os Alpes vão ficar sem neve.
A expressão "depois de mim o dilúvio" é para ser lida à letra.

Como se não bastasse os Alpes estarem sem neve e os campeonatos mundiais de desporto de inverno, em Oberhof aqui ao lado, decorrerem este ano sobre blocos de gelo que se foram buscar a fábricas de peixe de Hamburgo (aqui também há homo economicus, não é só na Califórnia), hoje está a passar um ventinho sobre a Alemanha, com velocidades até 200 km/h.
Embora Weimar não seja a região mais atingida, ao fim da manhã as escolas mandaram os alunos para casa.

Não passa de um detalhe, é verdade. Mas o povo começa a juntar 2 e 2 (o Inverno sem neve e anormalmente quente, a inusitada frequência dos furacões, os pássaros que já não se dão ao trabalho de ir passar o Natal a África, os ursos que se esquecem de hibernar), e fica preocupado. O tom dos jornais é, apesar de tudo, positivo: a situação é grave, mas ainda controlável; para isso, há que mudar os hábitos de consumo e usar a energia com mais eficiência. Já está a acontecer em alguns países europeus e até em alguns dos estados americanos. Contudo, quem tem coragem de ir propôr isto à China?

Ainda segundo a Bildzeitung, a Holanda vai desaparecer do mapa. E eu, homo economicus no seu melhor (que não sou menos que os outros), fico na dúvida se devo refrear os meus consumos, ou ir às escondidas de mim própria conhecer Amsterdão e Roterdão antes que passem para os domínios da Atlântida.

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