...e o público também.
Já começou mal, quando me dei conta que um amigo nosso, músico profissional e membro de uma famosa estirpe musical, estava presente. E eu a pensar que ia tocar sob anonimato.
Era suposto um dos alunos tocar uma das canções, eu continuava, o Matthias tocava a última, e só então o público aplaudiria.
O público, contudo, aplaudia sempre. O que chateou o Matthias, que achava os aplausos entre a minha peça e a dele, sendo que ambas eram variações de um tema, um crime capaz de dar sobressaltos pós-tumulares ao Bártok.
Para o evitar, pôs em prática o seu plano B, inventado na altura: em vez de ficar ao fundo da sala à espera da sua vez, foi comigo para o pé do piano, para se sentar mal eu terminasse; e como a professora protestou, ele cedeu um bocadinho: sentou-se ao segundo piano.
Mal acabei, arrancou logo com a sua parte - não fosse o público estragar-lhe o arranjinho (e não estragaria, asseguro, porque eu era a única "artista" sem pais nem avós obrigados ao aplauso imediato).
O problema é que a cadeira era demasiado baixa, de modo que o rapaz, sem parar de tocar, levantou-se e deu com o pé um empurrão à cadeira. Pobre Bártok.
Por essa altura eu não sabia se me havia de rir, ou esconder debaixo do piano.
Quando voltei para o meu lugar, o músico profissional elogiou-me. Seria por amizade? Não sei. Não me lembro - de facto, não tenho a menor ideia - da interpretação que fiz.
***
Muito mais tarde, em casa, dei um raspanete ao Matthias. Se agora começa a pensar e a agir pela sua cabeça, onde é que vamos parar?!
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