Esta é a semana em que, na escola dos meus filhos, se pode assistir às aulas.
Ontem estive na turma da Christina, para concluir que a falta de disciplina continua a ser um problema grave, e hoje passei a manhã com a turma do Matthias, para concluir que a falta de disciplina vai ser um problema monumental.
Sou uma precoce: ainda tão nova, e já com vontade de dizer "esta juventude!..."
E não estou só. Pelos comentários dos outros pais, fico com a sensação que um dia destes vão sugerir: "dê-lhes pancada, senhor professor, a ver se eles aprendem a aprender".
Eles não aprendem. Fazem tanto barulho, estão tão concentrados nas palhaçadas que fazem, que a aula não avança.
A professora de alemão, que é também professora de teatro, faz umas poses de diva que os acalmam por uns minutos.
A professora de biologia comentava com uma mãe "já tentei tudo, e até agora nada funcionou".
A professora de música passou a aula a interromper a canção que deviam aprender, para mandar um arrumar as chaves, mandar outro virar-se para a frente, mandar o terceiro cantar em vez de assobiar... (e hoje estava com sorte: um dos piores portou-se bem porque a mãe estava presente)
Note-se que estes miúdos são uma elite: os que conseguem entrar no "liceu", a via de ensino para os que têm melhores notas na escola primária. De fora já ficaram os estrangeiros com problemas de integração, ou que não dominam bem a língua, os alunos que não têm acompanhamento familiar adequado, os "pobres" cujos pais não conseguem dar o apoio necessário.
Uma das professoras da Christina resolveu o problema da disciplina com testes surpresa: se os alunos estão demasiado agitados, sai logo ali um teste. Ao fim de dois ou três testes surpresa, acabou-se a agitação.
Contaram-me que outra professora - directora de turma - pura e simplesmente cancelou a semana que a turma passaria num campo de férias. Disse-lhes que não a tinham merecido. E sei também de professores noutros liceus que dão um ritmo tal às aulas, que os alunos nem têm tempo para respirar, quanto mais para escrever bilhetinhos.
Quando falamos disto nas "tertúlias de pais" - reuniões mensais, um serão num café - a directora de turma tenta deitar água na fervura e apresenta argumentos para rejeitar estas propostas de "ponha-os com dono, senhora professora, bata-lhes se for preciso!".
Agrada-me que elas se passem assim para o lado dos meus filhos, mas desagrada-me que, no caso da turma da Christina, miúdos de 12 e 13 anos ainda não tenham percebido que a escola significa trabalho sério e não ocupação de tempos livres. E que a turma do Matthias vá exactamente pelo mesmo caminho.
Pergunto-me o que aconteceu na educação destas crianças, que não têm o menor respeito pelo professor.
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Na semana passada houve de novo uma tragédia numa escola alemã: um antigo aluno, que durante o tempo de escolaridade fora acumulando humilhações e fracassos, entrou na escola armado como um rambo, e disposto a matar segundo uma lista que tinha preparado cuidadosamente.
E lá veio de novo a discussão sobre a necessidade de tornar a escola um lugar aprazível onde as crianças se possam desenvolver sem medo nem angústias.
Em suma: entre o oito e o oitenta, vamos andando no gume da navalha.
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(Bastante a despropósito:)
Na aula de biologia, a professora perguntou o nome de alguns peixes de água salgada que fazem parte da alimentação humana.
O problema é que o mar fica a 600 km de Weimar, a rede de distribuição de peixe não tem nada a ver com a francesa, e estes miúdos, de peixe, só conhecem a versão alemã dos douradinhos da iglo. De modo que o único que levantou o braço foi o Matthias, depois de me lançar um olhar vitorioso, para responder: bacalhau!
Curiosamente, na aula da Christina a que assisti há 2 anos, a professora de biologia fez a mesma pergunta, e a Christina deu a mesma resposta. De tão orgulhosa, até se engasgou, e disse o nome em português.
Mais que um fiel amigo, o bacalhau é a nossa glória das aulas de biologia!
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