07 setembro 2006

Olá, Gabriela

Ia responder nos comentários, mas o que tinha para dizer entrou-se-me em auto-gestão.
A culpa é do Lobo Antunes e das suas teorias sobre escrita (e isto aqui sou eu a pôr-me em biquinhos de pés para aparecer na foto ao lado do escritor.)

Se não queres perder o Outono alemão vais ter de te despachar: começou em meados de Agosto.
Por acaso agora está outra vez bom tempo. Talvez seja já o Indian Summer...

Pelo que entendi, estás no Colorado. Ora bem, conselho de amiga: não te esqueças de ir a Mesa Verde (apenas 5 horas de Grand Junction, 7 de Colorado Springs e 8 de Denver - uma ninharia, para o American Way of Life).
E se já estás em Mesa Verde, aproveita para dar um saltinho a Monument Valley, mas - conselho de amiga - não compres o artesanato horrível que lá vendem.
Já agora, podes ir até Moab (tem uma padaria de chorar por mais, nessa terra de pão de borracha tufada), mesmo ao lado de Arches e do Dead Horse Point - dois espantos.
A viagem entre Monument Valley e Moab é outro espanto.
Um pouco à frente (ou talvez atrás, e do outro lado da estrada) do restaurante onde a Thelma e a Louise comeram antes de se desgraçarem no Grand Canyon, tem o restaurante Cow Canyon, com comida bastante requintada e um ambiente quase francês - nada mau para uma região onde só há comida índia (quer dizer, algo que está para a comida índia como o bife e as batatas fritas estão para a Maria de Lourdes Modesto).
Além disso, vende artesanato - sobretudo navajo e hopi - realmente bom. Nada daquelas porcarias para turistas, que se vendem um pouco por todo o lado, o que me faz uma pena imensa pelo modo como perverteram um dos poucos elementos que ainda podiam sustentar o Indian Pride.
O restaurante fica em Bluff, localidade onde se organizam rafting tours no San Juan River, bem mais suaves que os do Grand Canyon. E com paragem numa aldeia índia construída há quase mil anos: casas de vários andares incrustadas numa alcova que o rio cavou na rocha. Quer dizer: uma miniatura de Mesa Verde. Tem outra paragem, para o piquenique, junto a algo que parece um local religioso, um enorme bloco de pedra como uma muralha onde, ao longo de centenas de anos, foram sendo gravados vários símbolos. Gerações e gerações de índios que escolhem com critério o que querem deixar na rocha, e depois, sinal dos nossos tristes tempos, vem um engraçadinho e desata a sprayar na rocha variações sobre o tema fuck.

Outro conselho de amiga: não vás aos rodeos para turistas, que são uma vergonha: está o cowboy montado na vaquinha muito mansa, à espera que se abra a cancela para entrarem ambos em cena, a cancela abre-se, e aí dão à vaquinha muito mansa um choque eléctrico para lhe passar a mansidão, e lá vai ela aos pinotes, e o cowboy de pacotilha aos gritos yyyyeeeeoooooo yyyyyyyyeeeeeeeeeoooo e catrapumba, cai ao chão. Meus ricos dez dólares por pessoa, que mal aproveitados.

Bem. Pode dar-se o caso de estares quase na fronteira com o Kansas, e então aí, passo.
Mas vê lá se consegues ainda organizar essa volta. Garanto que é impressionante.
(Contudo, não devolvo o dinheiro se o cliente não ficar satisfeito...)
(Contudo, informo que até agora não tive reclamações, muito antes pelo contrário.)

Caso te decidas a meter 2 semanas de férias, diz, e faço-te sugestões para a volta toda, inclusivamente Antelope Canyon (paraíso dos fotógrafos) e, claro, o Grand, North-Rim e South-Rim.

No Verão de 2001 passámos duas semanas em viagem por essa Indian Country. Duas semanas em permanente estado de êxtase.
Aaaaaaahhhhhhhhhhh e ooooooooohhhhhhhhh. E também um bocadinho aaaaiiiiiii, quando fazíamos caminhadas pelos desfiladeiros, sob um sol escaldante.
Quem me dera ser possível gozar a reforma agora, e trabalhar depois até aos oitenta, para aproveitar o tempo em que as minhas pernas ainda fazem o que eu quero, e meter-me a pé pela Monument Valley e todos os parques naturais dessa região!

***

Indian Summer, Indian country, rafting tours, etc.
Na próxima semana decorre na Caparica um congresso de tradutores, o Contrapor, onde alguém vai apresentar a seguinte comunicação:
"Let’s do the frequência before the ponte, but after the feriado: the words we don’t translate"
- aposto que vai falar de mim!

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