05 julho 2006

asilo politico

Estive no centro de candidatos a asilo político, numa sessão de apresentação dos candidatos ao conselho de estrangeiros de Weimar.

Seriam umas quarenta pessoas numa sala relativamente pequena, e uma confusão de Babel: o que se dizia era traduzido para árabe, persa, russo, inglês, e o que mais calhasse. E vice-versa, para alemão. Tudo aos gritos, porque alguns aproveitavam a presença de representantes da Câmara para exporem os seus problemas pessoais, e outros aproveitavam estarem sentados para começarem a comparar supermercados e preços (informações vitais para quem vive de um rendimento mínimo e está excluído da sociedade).

Ao fim de uma hora, já vários tinham abandonado a sala, completamente descontrolados: ou a gritar contra aquela confusão, ou em choro desesperado.

O centro é composto de vários blocos de apartamentos onde moram famílias oriundas de países em crise, que pediram asilo político à Alemanha e estão há espera de uma decisão. Enquanto esperam não podem trabalhar. Simplesmente esperam - há 3 meses, há 5 anos, há 12 anos. Alguns chegam com traumas profundos da perseguição e da tortura (e são tratados por psicólogos que precisam de tradutores...), outros fugiram simplesmente da fome ("simplesmente"!).
A falta de perspectivas faz com que muitos deles adoeçam gravemente.

As necessidades básicas estão asseguradas, mas falta um contexto social que os enquadre de forma positiva.
Algumas famílias falam a mesma língua dos vizinhos mas não se entendem com eles - iranianos e iraquianos, por exemplo.
Quase ninguém tem interesse em conviver com os companheiros de destino, cujo único denominador comum é o infortúnio.

Para piorar, durante a sessão um dos candidatos começou a fazer discurso eleitoral, prometendo que o conselho de estrangeiros resolve todos os problemas. Que irresponsabilidade!
O problema é de ordem legal e financeira: não há nem vontade nem dinheiro para resolver os problemas dos desgraçados do resto do mundo, e os que cá chegam são mantidos indefinidamente neste limbo, até que os conflitos na terra deles se resolvam. A taxa de aprovação de candidatos a asilo político é muito baixa, e o processo muito moroso.

Saí do centro com a sensação habitual de impotência.
Ocorreu-me que há um triste simbolismo na sua localização: exactamente a meio caminho entre Weimar e Buchenwald.

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