Pelo Pontos de Vista chego à notícia de que 70% dos alunos universitários portugueses copiam.
Lembro uma cena surrealista, a que assisti durante um exame, já quase no fim da faculdade: um aluno tentou durante toda a prova copiar pela colega da frente, cochichava-lhe "põe as folhas mais à esquerda" e atirava-lhe perguntas; ela ignorou o assédio e tentou concentrar-se na sua própria prova (o que foi difícil); no fim do exame, à porta da sala, ele fez-lhe uma cena aos gritos:
"por tua causa vou chumbar!"
De link em link, do "hipocrisia do sistema" ao "pais avaliam professores", vou comparando o que parece ser a situação em Portugal com o que vejo na Alemanha.
Antes de mais, há que explicar que neste país se começa a fazer uma triagem a partir do terceiro ano da escola primária. Aos 10/11 anos, os alunos são separados em vias de ensino diferentes, segundo o rendimento escolar, com consequências que um cartaz que alguém pintou à mão e colou perto da escola do meu filho resume assim: "my 3rd grade teacher told me, I have no future".
As opiniões divergem, como de costume - há quem diga que é um crime contra as crianças, e há quem diga que o crime é obrigar todas as crianças a andarem no mesmo grupo, e à mesma velocidade, quando afinal têm interesses, capacidades e rendimentos diferentes.
Igualdade empurrando a média para baixo, ou diferenciação e escolas de elite?
Igualdade de oportunidades, ou optimização de recursos e capacidade competitiva num mundo globalizado?
Quanto aos hábitos de copianço, pelo que conheço na escola da minha filha, na via de ensino mais exigente (Gymnasium), os cábulas não vão longe, porque o ensino se baseia na investigação pessoal e na exposição oral.
Concretamente: com 10 anos, a Christina teve de apresentar perante a turma um trabalho sobre a cobra-cascavel. Foi à biblioteca municipal procurar material, escreveu o trabalho, baixou da internet os ruídos que a cobra faz, preparou a apresentação. Falou durante 10 minutos, usando apenas uma folha com os tópicos - além do material visual e sonoro que tinha escolhido. A nota final - atribuída pelo professor e pela turma - abrangia não apenas os conhecimentos transmitidos, mas a forma de apresentação.
(E não brincam: houve um aluno que teve uma nota mais baixa porque falou com ar de aborrecido e com as mãos nos bolsos)
Contaram-me recentemente como foi um exame de francês no fim do ensino secundário (de novo: Gymnasium). A aluna tirou às cegas um dos 3 textos que a professora tinha preparado, teve 30 minutos para preparar a exposição (consultando apenas um dicionário da língua francesa) e depois falou em francês sobre o tema que lhe tinha calhado, o impressionismo - primeiro, uma exposição de 15 minutos, sem qualquer comentário dos avaliadores; depois, 15 minutos a responder a perguntas.
Não sei como está o ensino em Portugal neste momento. Sei que nem no 5º ano da Faculdade exigiram de mim aquilo que a minha filha já aprendia aos 10 anos, e muito menos o que exigem dos finalistas do Gymnasium. Quando conto aqui que o meu curso universitário foi uma sucessão de exames escritos com nota positiva, ninguém acredita.
Mas a Christina também quase não podia acreditar no que lhe contou um amigo americano, de 15 anos: na escola dele não há cadernos; todos os alunos vão para as aulas de laptop debaixo do braço. Escola privada, claro, onde se procura dar um atendimento personalizado a cada criança, ajudando-a a conseguir o máximo rendimento que lhe é possível, em vez de a obrigar a ir à velocidade dos outros.
E caríssima: os pais do rapaz trabalham ambos, só têm um filho, a casa já está paga. Fizeram uma hipoteca para pagar as mensalidades da escola.
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