27 junho 2021

rapsódia sem chuva


A pouco e pouco - e já o sabemos: por apenas algumas semanas de alívio - a vida berlinense volta ao normal. Os restaurantes já reabriram (sobretudo na parte das esplanadas), os cinemas estão quase a reabrir (estão fechados desde Novembro), e ontem foi o concerto de fim de temporada dos Filarmónicos na Waldbühne.

Apesar de ser ao ar livre, as regras eram apertadas: bilhete com nome e lugar marcado, teste do dia negativo, espaço de dois lugares entre cada par, e sem o piquenique habitual que transformava este concerto numa imensa festa comunitária.

O concerto de ontem levou-nos aos EUA, pelas pautas de Bernstein, John Williams e Gershwin. Wayne Marshall foi o maestro - e também pianista no Rhapsody in Blue. Já lá vamos.

Um bom terço do palco estava ocupado pelos instrumentos de percussão de Martin Grubinger para tocar "John Williams: The Special Edition" em arranjo especial de Martin Grubinger senior. A peça percorre vários temas importantes de filmes, nomeadamente Star Wars, e é do género da que se ouve aqui. Gostava de ter visto Martin Grubinger de muito mais perto, mas já se sabe como é aquele anfiteatro: ou se leva um telescópio de ver as pedrinhas nas crateras na lua, ou se vai preparado para ouvir apenas. Ouvi, e já não foi mau.

Depois do pot-pourrit que voltava e uma outra vez à marcha imperial do Star Wars, foi a vez de Rhapsody in Blue. Talvez por causa da crise na cultura, não houve dinheiro para pagar um pianista, pelo que o maestro teve de fazer os dois trabalhos. E fez muito bem, excepto nas partes em que improvisava e levava o tema para a marcha imperial do Star Wars. Parecia aquele aluno a quem o professor pediu a tabuada do sete, e respondeu que preferia dizer a do seis, que conhecia muito melhor. Coitadito do pianista: não deve ter tido tempo para estudar tudo...

Ou então, leu o título da peça literalmente: "ai isto é uma rapsódia? então, cá vamos nós!"

Estou a brincar, claro. Tocada assim, a Rhapsody in Blue foi muito divertida. Fez-me sorrir de cada vez que passava dos temas que conhecemos ao Gerschwin para o de Williams que tinha tocado na peça anterior. Para terem uma ideia do que ali aconteceu:


Em suma: foi um bom concerto. Muito bom.

Mas sem o Rattle, e sem todo aquele espaço apinhado de gente feliz, e sem o temporal que já começava a ser tradição, não foi a mesma coisa.

Tenciono voltar lá no próximo ano, e espero que esteja apinhado e chova muito, para termos a certeza que a normalidade regressou finalmente a Berlim.


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