21 julho 2016

"des-"

(e já que estou com a mão na massa de copiar para aqui verbetes da Enciclopédia, aqui fica o do dia em que a letra era D e eu propus "des-", o que foi um bocado questionado porque "des-" não é uma palavra, mas isto sou eu que ando a ver se me despedem do cargo de administradora, para ir de férias descansada) (sim, que hoje a letra era P, e dou um doce a quem adivinhar que palavra propus)


Esta manhã escrevi a palavra mágica e saí ala que se faz tarde para ir a um mercado de velharias numa aldeia remota de Brandenburgo e conseguir estar de novo em Berlim antes das onze, a tempo de preparar a sardinhada dos Portugueses em Berlim, que correu tão bem que só agora voltei para casa.

Difícil cidade esta, onde acontece tudo ao mesmo tempo. Pelo menos tive sorte numa coisa: o workshop de fotografia feito por refugiados no Museu de Arte Islâmica já estava cheio, e assim só tive de fazer duas coisas ao mesmo tempo, em vez de três. Enfim, estou a fazer de conta que não fui ver o Barenboim e a Lisa Batiashvili na Bebelplatz a tocar o concerto para violino de Sibelius, porque também não é preciso contar tudo, e foi só hora e meia de gazeta à sardinhada.

Em todo o caso, ia eu esta manhã deslargada a toda a velocidade - diria mesmo mais, ia disparada (e estava capaz de apostar que ir disparado é o superlativo de ir desparado, esse ir mais lento, mera vitória sobre a inércia) - o carro voava por estradinhas estreitas entre árvores centenárias e de tronco possante, e então dei comigo a murmurar: vai devagar emigrante, vai devagar que ainda te espetas contra uma destas árvores, ainda vais desta para melhor que nem a alma se te aproveita, e a última palavra que escreveste foi "des-".


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