18 julho 2025

"Geórgia"

 

Ontem foi dia de "Geórgia" na Enciclopédia Ilustrada.
Nunca lá fui, mas estava capaz de passar o dia a escrever sobre esse país. Primeiro post:
A #Geórgia e a Arménia são terras muito próximas do recomeço do mundo - o monte Ararat onde a arca de Noé ficou encalhada quando as águas desceram. De modo que é natural que haja competição para decidir quem foi o primeiro que fez isto e fez aquilo. A Geórgia insiste que foi quem fez o primeiro vinho do mundo, com uvas de videiras esparramadas pelo chão dos campos, envelhecido em ânforas enormes metidas na terra (as "qvevri", ou "kvevri").
Na Arménia conta-se que, quando Deus fez o mundo, chegou ao fim e descobriu que ainda tinha um monte de pedras no fundo do saco. Já estava cansado e muito farto de dar retoques no mundo inteiro, pelo que largou as pedras mesmo ali onde estava: em cima desse país. Não sei se é verdade, mas admito que seja mais suportável viver num sítio inóspito se o facto for visto como sinal da fragilidade de Deus e da sua presença concreta no lugar. “Coitado, já estava exausto quando se deitou aqui a descansar, ao sétimo dia, temos de ter paciência...”
Também me contaram que, quando vão à Geórgia, a estrada vai subindo as encostas daqueles montes imensos e, mal passam a fronteira, estende-se uma paisagem verde a perder de vista. Como se Deus se estivesse a rir dos arménios. Mas talvez não seja Deus, talvez seja a História, que, como se sabe, não é uma senhora recomendável: as fronteiras da Arménia são provavelmente aquelas que um povo ferido pelo genocídio conseguiu desenhar no braço de ferro com os poderosos vizinhos à sua volta. "Pffff, podes ficar com as pedras", terão dito esses vizinhos, imagino eu. E depois deitaram as culpas para Deus, que o divino sempre teve as costas largas.
Em todo o caso: não satisfeita com o troféu do primeiro vinho do mundo, parece que a Geórgia também arranjou de ficar com quase todo o verde da região, e desde que me contaram esta história, fiquei com enorme curiosidade de ir conhecer a Geórgia chegando pelo sul, pela estrada da Arménia. De facto, foi por causa desse contraste que a Geórgia se instalou no meu horizonte de desejos de viagem. E o palerma do algoritmo deve ter lido os meus pensamentos, porque ultimamente passa a vida a mostrar-me um vídeo para ir passar uma semana na Geórgia a aprender a cantar como eles. Só que entretanto fui ver o preço. Se calhar arranjo um professor de canto georgiano ali para os lados da Serra da Estrela, que fica muito mais barato e com dois ou três copitos daquele vinho do qvevri nem noto a diferença. Todos somos Geórgia!
(Eis, assim, como comecei a escrever um post sem saber aonde me levava, e acabei a desembocar numa mensagem de profundo humanismo: todos somos Geórgia...) (estou aqui, estou a habilitar-me ao prémio Nobel da paz)
E ainda falta dizer que a comida da Geórgia é uma delícia, pelo menos a avaliar pelo que comíamos no restaurante da cadeia de restaurantes Genatsvale, aonde fomos várias vezes quando andámos a filmar o ARtMENIANS em Yerevan, e onde fomos muito felizes.
(Eis, assim, como acabei de escrever um post que bem se podia chamar “Geórgia por um canudo, vista a partir da Arménia”)


Segundo post:

Dizer #Geórgia é dizer também Trio Mandili, e dizer Trio Mandili é, para mim, dizer aquela miúda saltitante, que vai puxando o burro por entre a que segura o telemóvel e a que toca o instrumento de cordas.
Pus a play list a correr, e de canção para canção fico cada vez mais encantada com a frescura e a alegria dela.
OK: delas.
(Dela)
Experimentem. Se ficarem como eu, aviso já: vi primeiro!


Terceiro post:



“In Bloom” é o primeiro filme da #Geórgia que me lembro de ter visto, e deixou-me uma impressão forte. Conta a história de duas amigas adolescentes em Tiblissi. Uma delas é raptada pelo homem que quer casar com ela – a política de facto consumado é uma tradição que, infelizmente, ainda persiste. E a outra, mais consciente de si própria, revolta-se com toda a situação e tenta convencer a amiga a voltar para casa, a não casar.
A cena da dança final, no dia do casamento, tem uma força inesquecível.
Depois da exibição fiquei a saber que é uma dança masculina. Melhor ainda. Grande miúda!




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