24 julho 2025

conteúdos ideológicos (1)

 

Agora que o ministério da Educação decidiu tirar aquilo a que chama "conteúdos ideológicos" da disciplina de Cidadania, foram entrevistar o famoso casal de Famalicão que põe a sua ideologia muito à frente do bem-estar dos filhos menores. A sério: entrevistar conservadores de ideologia radical para falar sobre currículos da escola pública?! E, já agora, perguntar ao Epstein se acha bem a lei baixar a idade do consentimento para 12 anos? Perguntar ao Fritzl a sua opinião sobre usos legítimos das caves das moradias familiares? Será que vale tudo?
Sim: estou a falar de abuso de poder sobre menores, e da responsabilidade do Estado na protecção dos interesses das crianças e dos jovens.

A vantagem de ter um blogue avozinho é que funciona muito bem como arquivo nos casos em que a História se põe a pedalar sem sair do sítio. Em 2009, quando o escândalo do momento era a proposta de distribuírem preservativos aos adolescentes na escola, escrevi o que se segue (a partir de uma notícia do Público que entretanto já não está disponível). Na altura, fiquei muito bem impressionada por a comunidade das Testemunhas de Jeová não querer impor os seus valores ao conjunto da sociedade. Bem diferente do tal casal de Famalicão que não teve dúvidas em sacrificar os seus próprios filhos menores aos interesses do lobby ultra-conservador que serve.

Partilho o post, com ligeiras alterações:

19 de maio de 2009

[ Notícia do Público: ] As Testemunhas de Jeová, que em Portugal contam com cerca de 150 mil seguidores, lembram a importância da castidade até ao casamento, dizendo que, por isso, a distribuição de contraceptivos é indiferente. "Os nossos jovens sabem muito bem o que fazer, são criados e educados de acordo com aqueles valores, apreciamos muito a educação que Deus nos dá, vivemos de acordo com os valores que defendemos independentemente do que os outros façam”, esclareceu Pedro Candeias, também à TSF.
É isso mesmo: se, para mim, educar os filhos no valor da castidade é importante, só tenho que educar os meus filhos no valor da castidade - em vez de obrigar pessoas que têm outros valores a pôr os seus filhos na situação que me parece preferível para os meus, como se os meus valores tivessem de ser universais.
Parabéns à comunidade das Testemunhas de Jeová, que nos dá um belo exemplo de como estar numa sociedade plural sem perder a sua própria identidade e sem querer impor a sua visão do mundo aos outros.
Quanto ao caso em si, penso que a distribuição de preservativos nas escolas tem três vantagens: prevenir a gravidez de adolescentes, evitar a propagação de doenças sexualmente transmissíveis, e, sobretudo, divulgar e vulgarizar a ideia de que o preservativo é algo indispensável na sexualidade juvenil.
Não faz sentido que, em nome dos interesses de algumas famílias (que acreditam que os anjos não têm sexo e que os seus filhos adolescentes são anjos e portanto nem é preciso falar do problema), os outros adolescentes sejam privados deste apoio e desta pedagogia.

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