21 maio 2025

não há milagres

 

Sobre "a esquerda que não faz nada pelas pessoas", lembram-se de quando a Geringonça entrou em campo, e se ouviu um enorme suspiro de alívio em todo o país?
Pode ser percepção minha, mas tenho ideia de que, repentinamente, já não era preciso ultrapassar a troika pela direita.
Nos primeiros dois meses, a Geringonça reverteu boa parte das políticas duríssimas do governo de direita. Baixou a carga tributária nos grupos de rendimentos mais baixos, devolveu salários na função pública e aumentou o salário mínimo.
Lembro-me em particular de ter posto fim a uma situação terrível do tempo da troika: as famílias que perdiam as casas em que viviam por, devido à crise, não conseguirem pagar o empréstimo bancário.
Foi há 10 anos. Já esqueceram? Ou fui eu que sonhei?
Há descontentes? Pois claro que há descontentes! É impossível agradar a gregos e troianos, sobretudo quando uns querem sol na eira e outros querem chuva no nabal, e os terceiros nem sabem o que querem, mas querem já, imediatamente, perfeito e sem demora.
O caso do alojamento local é um bom exemplo da dificuldade de governar: se o governo tenta evitar a passagem de habitação para turismo, os donos das casas que precisam do dinheiro protestam. Se o governo não faz nada, os que andam desesperados para arranjar casa protestam.
Há sempre descontentes.
Se fossemos um país rico, riquíssimo, podíamos resolver os problemas atirando-lhes dinheiro para cima. Mas não somos.
Pelo que haverá sempre descontentes.
E mesmo que fôssemos riquíssimos, haveria sempre alguém a protestar, e a sentir-se deixado para trás por não ter tanto como lhe parece que o vizinho tem, a criticar tudo o que é feito e tudo o que fica por fazer.
Finalmente: se é para andar à procura de culpados do que aconteceu nas eleições do dia 18 de Maio, convém ter também presente que andamos a ser manipulados nas redes sociais por forças poderosíssimas apostadas em desestabilizar os sistemas democráticos; que - como se vê na nova era inaugurada por Trump e Musk - é possível comprar as eleições descaradamente; que o edifício da cooperação internacional é extremamente sensível, e um país sozinho não tem grande margem de manobra; que o grande capital inventa sempre maneiras de escapar ao controlo; que o racismo e a xenofobia correm docemente no silêncio dos corações até aparecer o primeiro flautista de Hamelin a fazê-los sair da toca.
Os partidos do arco democrático portugueses fizeram muitas asneiras, pois fizeram. Mas é injusto e perverso atirar para cima deles as culpas de tudo.
Porque, de facto, andamos há anos a jogar Calvinball.
(Se não entenderam a última frase, vão ler Calvin & Hobbes. Sempre aproveitam melhor o tempo que andando por aqui a bater nos "partidos de esquerda que se esqueceram do que deviam ser".)

1 comentário:

FILOSOFANDO NA VIDA disse...

É um caso a ser pensado seriamente! Não há milagres mesmo nessas situações. Abraços