19 maio 2025

a nossa casa


Hoje dei comigo a pensar naquela piadinha "Foge cão, que te fazem barão! Mas para onde, se me fazem visconde?"
É que, no país onde vivo, a extrema-direita teve 20,8% dos votos para o Parlamento Federal, e no país de onde vim teve 22,6%.
Para onde quer que vá, uma em cada cinco pessoas (ou quase uma em quatro) com quem me cruzo na rua pode ser uma dessas que querem "abanar o sistema". Uma dessas que em vez de fazer funcionar o cérebro prefere entregar as tripas às percepções com que é intoxicada nas redes sociais e em certos jornais e canais de TV. Uma dessas que usa o seu voto para destruir o Portugal que temos vindo a construir juntos e com muito esforço neste meio século de liberdade, cientes dos valores que nos movem e do tanto que ainda temos para andar.
Ouço dizer que os jornalistas tiveram culpa nisto. Terão tido alguma, mas reparem que a diferença substancial no comportamento do jornalismo na Alemanha não está a impedir a AfD de crescer.
(Sim, bem sei que o Bild existe - mas a esmagadora maioria dos outros não leva a AfD ao colo.)
Também ouço dizer que a culpa é da esquerda, que se esvaziou, que se tornou woke, que se afastou dos princípios originais. Esta conversa dá pano para mangas, mas convinha olhar para o contexto internacional: se a culpa dos resultados de ontem fosse mesmo do PS e do BE, como explicar que no mundo inteiro a direita radical esteja a crescer desta maneira?
Não. Em Portugal como nos restantes países, a culpa de um em quatro eleitores votarem num partido da direita radical, é antes de mais de cada uma dessas pessoas. Ninguém pode fugir à responsabilidade pessoal das consequências do seu voto.
Quero-me bem longe de pessoas assim. Prefiro a companhia daqueles três em quatro eleitores que votaram num partido democrático, seja lá qual for: dentro do espectro democrático, todas as opções são dignas de respeito.
Mais de 75% de eleitores que apostam na Democracia e num voto construtivo, apesar de todas as dificuldades e dúvidas, é algo que temos de celebrar. Vivam! Espero continuar a encontrar-me convosco em projectos de construção da casa comum, e espero que consigamos melhorar a nossa maneira de estar uns com os outros. Continuaremos a discordar sobre o melhor rumo para o país, mas permanecemos unidos no essencial: a luta contra os que querem destruir algo tão básico e indiscutível como o sistema democrático e o respeito pelos direitos humanos.


2 comentários:

Lucy disse...

sim, espero encontrar-me contigo...

Helena Araújo disse...

Continuamos, Lucy.
75% de democratas é motivo de alegria.