18 janeiro 2025

coisas da vida


Coisas da minha vida: temos um contentor de lixo de papel que se enche com demasiada rapidez para o ritmo trimensal do nosso contrato. Ao fim de um mês já eu ando a pensar como hei-de fazer para chegar ao dia da recolha sem a vergonha de deixar o contentor na rua com mais meia tonelada de cartão em cima.
(E não me venham com indirectas sobre o consumismo, que a maior parte do nosso cartão é por causa de nos esquecermos de levar saco quando vamos ao supermercado, e trazer as compras numa caixa que por lá encontrámos vazia. Mas confesso que me assusta a quantidade de papel que uma família pequena como a nossa manda para o lixo dia após dia.)

Acontece que alguns vizinhos têm a recolha do papel nos intervalos da nossa. Quando vejo os contentores deles na rua, e o nosso cheio a transbordar, faltando mais de um mês para o virem esvaziar, confesso que tenho sempre uma conversa difícil com a minha consciência, e nem sempre é ela quem ganha.
Na terça-feira passada não reparei que os vizinhos tinham os contentores na rua. Na madrugada de quarta-feira vi passar o camião da recolha do papel, pensei no nosso contentor cheio e na pilha de caixas desfeitas na garagem, à espera de vez, e fiquei muito chateada comigo própria (e a minha consciência a rir-se de mim à socapa). Era demasiado tarde, o camião já ia longe - e logo neste mês em que tinha dado um jeitão dizer à minha consciência que fosse dar uma voltinha ao bilhar grande!

Pouco depois, descobri que o nosso contentor estava vazio. O senhor do lixo viu-o ao fundo da nossa quintinha, por trás do carro, foi lá buscá-lo, esvaziou-o e voltou a pô-lo no sítio.

Aconteceu na quarta-feira de manhã, e ainda hoje me sinto contente e grata.
E também me sinto contente por me sentir contente por causa disto. É um antídoto possível para os efeitos nocivos destes tempos em que nos calhou viver.


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