17 novembro 2024

copo bem mais que meio cheio

 


Em 2023, festejei o meu aniversário na clandestinidade porque estava a lidar mal com aquele 60.
Enfim, clandestinidade relativa: avisei os amigos de Berlim que havia festa na margem do lago Wannsee: a minha família punha as mesas, os bancos e as bebidas, eles traziam a comida. Foi uma bela festa.
Entretanto, já passou, já não dói, até ao 70 está-se bem. Depois logo se vê.
Portanto, este ano saio da clandestinidade: é hoje! 😊
No ano passado, rodeada de amigos que não se importaram de vir passar frio para a margem de um lago no Novembro berlinense (é assim que testo as amizades...), em frente à água calma e à tradicional fogueira, deitei contas à vida: falei desta certeza de ter nascido na melhor época da Europa, de sempre ter sentido confiança no futuro, mas de temer que estejamos a chegar ao fim de um ciclo feliz.
Em 2023, pedi aos meus amigos que, no meio de tantas ameaças, saibamos estreitar a rede da amizade: é o que nos vale em tempos sombrios.
Um ano depois, acrescento esta convicção: o mundo em que vivemos é aquele que fazemos. Se espalharmos à nossa volta pequenos gestos quotidianos de delicadeza e humanidade, o mundo torna-se automaticamente melhor.
Mais ainda: o mundo em que vivemos é aquele que se torna visível pela palavra. Se tivermos o cuidado de reparar no que há de positivo no nosso mundo (e – olhem com mais atenção - há tanto para ver!), se o soubermos verbalizar, o mundo das pessoas com quem comunicamos ganha cores mais bonitas.

É isso que vos peço hoje, um pequeno acto de resistência contra os sentimentos de perplexidade, temor e impotência que por estes dias nos paralisam: vamos encher o mundo de pequenos gestos quotidianos de bondade, e vamos contar a quem nos quiser ouvir o bom e o belo que acontece nos nossos dias.













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