19 março 2022

a melhor ideia de sempre: explorar pessoas que fugiram à guerra para conseguir piorar ainda mais as condições de trabalho dos portugueses

 


O Observador publicou um texto muito interessante sobre a revolução no mercado de trabalho português trazida pelos ucranianos que fogem à guerra: seriam gente com excelente formação profissional que estaria esganadinha para trabalhar, sem se porem a fazer reivindicações como os trabalhadores portugueses (estes preguiçosos, depreende-se).

Alguém que conheça o autor de tão peregrinas ideias, faça o favor de o desenganar: pessoas inteligentes que não têm ligação afectiva a Portugal ficam a trabalhar na Alemanha, onde os salários são mais altos e a empresa pede contas ao chefe se os seus subordinados ficarem a trabalhar depois das 5, caso o horário estabelecido seja das 9 às 5. Horas extraordinárias por sistema é sinal de que o chefe é incompetente.

De facto, os ucranianos não são os únicos a estar atentos e a ir para os países onde têm melhores condições de vida e de trabalho. Há muitos portugueses que preferem trabalhar no estrangeiro pelos mesmos motivos.

Também há outros portugueses, igualmente inteligentes, trabalhadores e com excelente formação académica, que escolhem ficar em Portugal a ganhar apenas um 1/3 ou 1/4 do que ganhariam no centro da Europa, porque acham que é dever deles ficar, e ajudar o seu país a andar para a frente. É mesmo muito injusto e muito ingrato chamar preguiçosos a estes.

Finalmente, as boas notícias: já há muitos ucranianos em Portugal, e até ouvi dizer que com cursos superiores. Uns andam na lavoura, outras limpam casas. É só ir buscá-los aonde estão, e dar-lhes os tais empregos melhores. Já falam português e tudo.

(Às vezes pergunto-me se o Observador publica certas coisas só para ter cliques. Que um órgão de comunicação social tem de viver, não é assim?, e há quem prefira ir pela vida fácil, em vez do trabalho honesto. Enfim, escolhas.)


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