Por estes dias o meu coro anda desesperado à procura de uma sala para ensaiar, que tem de ser 4 vezes maior que a que usávamos antes de começar a pandemia. Para podermos cantar todos juntos, respeitando as regras de protecção da covid, precisamos de uma sala com pelo menos 300 metros quadrados.
E não é só o meu coro - todos andam à procura de salas bem maiores do que aquelas em que até agora ensaiavam. De modo que bem podemos perguntar e telefonar: arranjar em Berlim uma sala que tenha esse tamanho, esteja disponível e tenha um preço de utilização não muito mais alto que o que pagávamos até agora é pior que tentar encontrar uma agulha num palheiro. Porque a agulha, essa, existe algures no palheiro. Já a sala grande como se exige e contudo acessível à nossa bolsa...
Enquanto não encontrarmos ensaiamos ao ar livre, muito agasalhados contra o frio que já se faz sentir, com lanternas de bolso para conseguir ler as pautas apesar da escuridão que de semana para semana chega cada vez mais cedo. Já chegámos a cantar de guarda-chuva, já tivemos de interromper o ensaio por causa do mau tempo.
Se todos tivessem a vacinação completa, nada disto seria necessário: podíamos voltar a ensaiar na nossa sala de sempre, iluminada e aquecida.
O nosso maestro faz questão de não deixar ficar ninguém para trás. Mas pergunto-me o que se passará na cabeça dessas pessoas, que aparentemente não morrem de vergonha ao saber do esforço de tantos de nós para tentar encontrar a (talvez inexistente) sala, ao ver os colegas do coro a cantar à chuva e cheios de frio, ao pensar num eventual aumento das quotas para podermos pagar o preço de uma sala maior.
Provavelmente encolherão os ombros dizendo que a culpa não é delas, mas do governo que impõe estas regras e que nós, em vez de gastarmos tempo a procurar salas grandes, devíamos participar nas manifs delas contra as regras impostas pelo governo.
Não sei quem são essas pessoas do meu coro que fazem questão de não se vacinar. Mas com cada hora que perco nesta busca cresce a minha zanga contra elas: porque quem paga o preço da sua liberdade sou eu.
Elas responderão que não têm culpa de eu gostar de ser uma ovelhinha obediente, e de não ser capaz de ver a conspiração dos governos contra os povos.
E eu pergunto (só cá para nós, que ninguém nos ouve):
...não, deixem lá. É melhor nem pensar nisso.
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