Por causa deste vírus que se transmite por aerossóis, cantar em grupo é uma actividade de altíssimo risco e os coros foram proibidos de ter ensaios presenciais. Muitos coros perderam o hábito de si próprios logo na primeira vaga da covid-19. O nosso continuou a preparar a Misatango de Palmeri em sessões zoom. No verão de 2020 aligeiraram as regras: permitiram ensaios ao ar livre, com as pessoas a cantar a 2 m de distância umas das outras. O meu coro encontrou-se na esplanada do espaço cultural onde costuma ensaiar, para cantar conviver - com as pessoas sentadas longe umas das outras. A presidente da associação pagou os comes e bebes de todos porque, como ela disse, por causa da pandemia não pôde fazer a viagem que tinha previsto para as férias, e tinha todo o gosto em pagar essa festinha com o dinheiro que lhe ficara a sobrar.
Os ensaios ao ar livre prolongaram-se até finais de Outubro. Nós a cantar no escuro com lanternas presas às folhas da pauta ou na testa, nós a cantar à chuva, nós a cantar cheios de frio. Ainda tivemos um encontro de fim-de-semana para interpretar em conjunto a Misatango (com testes, com imensa distância entre todos, com excelente ventilação), mas logo a seguir o país entrou de novo em lockdown, e nós voltámos ao zoom.
Até à semana passada. O primeiro ensaio ao vivo desde há sete meses foi na terça-feira, e parecia aqueles reencontros com bons amigos que não se vêem há eternidades mas com quem a conversa brota imediatamente com toda a naturalidade. Eu, desabituada de falar e cantar (é que já nem sequer no duche!), redescobri a minha voz. Comentei essas descobertas com a cantora ao meu lado, que disse ter ouvido alguém afirmar na rádio que quando a pandemia passar vamos regressar rapidamente à normalidade e esquecer os tempos difíceis. Desde terça-feira da semana passada que estou capaz de acreditar que sim.
O nosso maestro é que nem por isso: depois de tantos meses a dirigir um coro sem o ouvir, estava - como comentou depois - com problemas de sinapses.
No fim-de-semana passado tivemos novo encontro para cantar e conviver. Reservámos a Haus am Waldsee - que tem um café, espaço de exposições e um relvado em declive até um lago, cheio de esculturas impressionantes - para cantar e conversar no jardim.
Já era normal os ensaios deste coro decorrerem recheados de sorrisos e sinais de bom entendimento, com animadas conversas nos intervalos. O que é novo é que agora comecei a dar-me conta disso, e do enorme valor do que tínhamos e estamos a recuperar. E reparo muito mais nas expressões faciais. Só não sei dizer se não reparava antes, ou se todos nós ficámos muito mais expressivos depois de tantos meses em isolamento e a comunicar com o rosto tapado por uma máscara.
Em todo o caso: venha o futuro! Tinha muitas saudades dele.
--- O futuro do nosso coro já tem roteiro: o nosso projecto para Outubro de 2022 chama-se "Fiesta Requiem - um abraço". Quem puder estar em Berlim nessa altura, marque no calendário e arranje de reservar os bilhetes. (Quem avisa, amiga é.)
1 comentário:
De fato, seu artigo foi muito bem explicado gostei de ler.
Tri legal resultado
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