26 maio 2021

"Africa Day" (1)


Quando andei à procura de uma imagem para juntar ao post que propunha o tema "Africa Day" para o dia 25 de Maio na Enciclopédia Ilustrada, dei-me conta de uma diferença enorme nos cartazes do "African Liberation Day" e do "Africa Day" (que substituiu o nome anterior a partir de 2002): passa-se da ideia de luta para o kitsch de uma África fofinha. O cartaz de alerta para a necessidade de descolonizar países e mentalidades dá lugar ao cartaz turístico.
(Confesso que aquele "happy Africa day" dá cabo de mim.)
Então a descolonização já não é tema? Em que momento perdi o comboio, e fiquei parada numa estação desactivada da História, a pensar que os povos africanos ainda têm pela frente um longo caminho para se libertarem e se cumprirem, e os antigos colonizadores ainda têm de olhar com seriedade para a herança do seu passado e fazer uma gigantesca terapia relacional com os povos que exploraram?
"E contudo, ela move-se, sua palerma" (como diria Galileu com uma pitada de Vasquinho da Anatomia): os povos africanos têm tanto direito ao kitsch como todos os outros, e não me compete a mim ensinar-lhes o caminho (o que seria mais um tique colonialista).
Mover, move. Mas - insisto teimosamente - há muitos factores de inércia que exigem a nossa atenção e um esforço incansável para acabar com situações de injustiça. Foi num dia 25 de Maio, num #Africa_Day, que um polícia prepotente e sádico matou lentamente George Floyd - bruto, surdo e insensível aos pedidos deste para que o deixasse respirar.
"I can't breathe" é a frase que me falta em cartazes mais recentes do Africa Day. E o facto de muitos africanos preferirem celebrar o 25 de Maio com imagens de uma África tão kitsch como qualquer outro continente não nos liberta a nós da obrigação de continuar a descolonizar as mentalidades nos antigos países descolonizadores e esclavagistas.















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