Uma das certezas mais inabaláveis da Páscoa, pelo menos das Páscoas que conheci no Minho, é esta: o padre do compasso chega ao fim do dia ébrio, porque não sabe como fugir à simpática insistência dos donos das casas que visita. "Ó senhor padre tem de me provar este tinto, é da minha colheita e está muito bom".
Para dar ao padre algumas tréguas, os meus pais preparavam um chá e salada de frutas. Ele bebia, conversava, agradecia, e lá continuava para a refrega seguinte, onde - ao menos isso! - lhe davam a escolher as armas: branco, tinto, ou jeropiga. Ou aguardente. Ou licor. Tudo servido com um orgulho que enternecia e impossibilitava qualquer tentativa de recusa.
Uma história que se contava com gosto foi a do padre jovem que chegara recentemente à aldeia, e para fazer boa figura comprou um par de sapatos novos para levar no compasso. Os sapatos novos, as enormes distâncias que se fazem ao andar de casa em casa nas aldeias minhotas, os caminhos de pedras, e a falta de confiança para recusar todo o vinho que lhe impunham: lá para o fim do dia já só dizia, sem qualquer filtro, palavrões atrás de palavrões por causa dos piiii dos sapatos novos que lhe piiii o piiii dos pés.
2 comentários:
Só há bem pouco tempo é que ouvi falar no "compasso". "Cada terra com seu uso cada roca com seu fuso"
Lolol! O que já me ri a imaginar o padre a dizer os impropérios!!
Beijos e abraços.
Sandra C.
Bluestrass
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