23 abril 2021

sem-abrigo

I.
Por estes dias há problemas graves de sem-abrigo na nossa rua. Milhares e milhares deles! 

Delas, melhor dizendo. Na quarta-feira passada um povinho de abelhas decidiu pôr-se a caminho, e veio pedir refúgio na colmeia que temos no nosso jardim. 

Só vos digo que o egoísmo também dá nas abelhas, e de que maneira! As da casa não deixaram entrar as de fora, que passaram a noite toda (e que fria esteve!) amontoadas umas nas outras. Lembravam-me os pinguins imperador a proteger as crias.

A apicultora nunca viu nada disto. Já perguntou entre os outros apicultores da região de Berlim, e nenhum consegue explicar este fenómeno. Suspeito que a culpa seja da AfD: desde que se tornaram a primeira força da oposição no parlamento federal o egoísmo na Alemanha vai de vento em popa.






(A primeira foto foi de quarta-feira de manhã, a segunda foi ao fim da tarde, a terceira na manhã da quinta-feira.) 


II.
Na nossa zona tem havido uma série de assaltos. E como a minha rua deve ter o maior número de câmaras de vídeo per capita no país inteiro, temos uma bela colecção de filmes de um gajo que vai de jardim em jardim descansadíssimo da vida, salta agilmente por cima de muros, e experimenta todas as portas. As luzes de alarme acendem, as câmaras filmam, mas ele continua impávido e sereno a fazer o que tem de fazer.

A polícia diz que deve ser "da cena dos sem-abrigo". 

Sem-abrigo, em sentido metafórico, sinto-me eu, ao saber que anda um homem de jardim em jardim a ver em que casa pode entrar e o que encontra para roubar, sem se preocupar com as imagens e os vestígios que deixa. Parece ser uma pessoa que já não tem nada a perder. E isso é assustador. 


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