08 abril 2021

o folhetim da máquina de lavar a louça

 

A minha máquina de lavar a louça avariou-se pela não sei quantésima vez, e ia custar quase tanto concertar como comprar uma nova baratucha.

Encontrei uma BAUKNECHT barata, silenciosa e com baixo consumo de energia. Ainda pensei na Miele, mas custava quase 3 vezes mais. Fui ao facebook avisar o pessoal amigo que ia encomendar essa máquina, e que quem tivesse alguma coisa a opor devia dizer logo, ou então calar-se para sempre.

Cem comentários depois, encomendei a Bauknecht.

Logo a seguir, o espírito da Greta Thunberg caiu em cima de mim com estrondo: mesmo que dê para comprar 2 Bauknecht com o preço de uma Miele, o planeta não suporta este hábito de comprar barato, deitar fora, e comprar de novo barato. De modo que cancelei a compra da Bauknecht e encomendei a Miele mais acessível que encontrei, que - dizia o site - estava disponível para enviar dentro de 2 ou 3 dias. Encomendei também o trabalhinho de a carregar e instalar, e levar a máquina avariada, e depois avisei os amigos no facebook que bem merecia uma medalhinha Greta Thunberg.

No dia seguinte recebi uma simpática mensagem informando que, devido à covid, a Miele está com dificuldades de fornecimentos e por isso a minha máquina só seria enviada em finais de Agosto.

Acho que foi a primeira vez que me dei realmente conta do significado da covid para as empresas que andam há décadas a trabalhar na criação de circuitos absolutamente optimizados, com um mínimo de pessoal e camiões a descarregar directamente para a linha de montagem as exactas peças necessárias aos produtos planeados para fabrico nesse dia.

(Ah, minto! Já me tinha dado conta disso, e com um âmbito bem mais trágico, quando um matadouro industrial alemão teve de fechar devido a inúmeros contágios de covid entre os trabalhadores, e os produtores de animais ficaram de repente sem saber o que fazer aos seus leitões, e onde acomodar a "remessa" seguinte que já vinha a caminho.)

Voltando aos meus problemas caseiros: se puder evitar passar meio ano a lavar a louça à mão, evito. Pelo que havia que cancelar também esta encomenda, e procurar alguma Miele tresmalhada num armazém qualquer. Infelizmente: ou não as há, ou estão ainda mais tresmalhadas do que eu pensava.

Acabei por encontrar uma empresa de carne e osso, aqui em Berlim, que encomendou a máquina à fábrica e - se tudo correr bem - está a contar com ela já na próxima semana. Mal chegue à filial, vêm-na cá instalar e levar a avariada, e fazem tudo isso pelo mesmo preço da empresa mais vantajosa da internet (excepto num triste detalhe: a garantia é de apenas 2 anos, em vez de 5)

Aprendi duas coisas importantes para a próxima vez que quiser fazer alguma compra destas:
1. Pensar logo no planeta antes de encomendar.
2. Verificar se há empresas locais que ofereçam o mesmo serviço pelo preço das empresas da internet. Talvez a internet não seja tão mais barata como se pensa. E um atendimento pessoal é sempre um atendimento pessoal.

Daqui a uma semana já estarei em condições de dizer se esta história acaba aqui, ou se a série vai ter direito a segunda temporada.

Entretanto, os comentários continuam a pipocar no facebook: se é melhor cesto ou gaveta dos talheres, se é louça ou loiça (disse logo que não, que é para lavar todos os dias e não apenas o serviço dos domingos), se as máquinas mais caras duram realmente mais, se é melhor lavar a louça à mão, e até comentários sobre comprar comida de gatinhos (ou aquilo não fosse o facebook...). Também me informaram sobre a Bauknecht ter um departamento sediado no Haiti, para quem desiste deles a favor de outras marcas, que se chama BauknechtVoodoo e é muito eficaz... E prometeram-me um presunto (de uma brincadeira antiga, do tempo áureo dos blogues) como prémio de consolação caso a Greta Thunberg não me desse a tal medalhinha.

No fim de tudo - depois de ter feito três encomendas e cancelado duas - uma amiga veio-me lembrar que a compra mais amiga do ambiente é a de máquinas usadas. Que também as há, e muitas vezes até são Miele.

Tudo isto só para dizer que adoro a minha bolha no facebook: pegam em algo tão desinteressante como a compra de uma máquina de lavar a louça, e transformam-na em dois dias de bom humor.


6 comentários:

Unknown disse...

Helena, parabéns pelo documentário, foi óptimo conhecer o seu sorriso que está tão de acordo com a sua escrita. fico feliz por haver mais gente que valoriza este tesouro que é o seu blog. obrigada, sempre
Mónica Granja

Flor disse...

Muito raramente tenho "uma bolha"😮 no Facebook. Acho que os meus amig@s virtuais não praticam o bom humor. Ou por outra nem bom nem mau.
Ainda sobre as máquinas de lavar e não só. Não vale a pena comprar

Flor disse...

Queria dizer que não vale a pena comprar artigos de alto gabarito porque avariam como as outros e é pena deita-los para o lixo. Marca branca é o melhor!🙄🙃

Helena Araújo disse...

Mónica, obrigada! :)

Flor, mais uma vez comprovo que tenho mesmo muita sorte com quem se cruza comigo no facebook. E aqui também. :)
Pois, as opiniões divergem muito. Entretanto, o assunto já está resolvido. Pelo menos por agora: vêm entregar a máquina na próxima quarta-feira.

Flor disse...

Será que vem? :(

Helena Araújo disse...

Na sexta-feira passada disseram que vinham instalar amanhã, quarta-feira. Estou em crer que vêm, porque ainda não telefonaram a dizer que afinal a empresa não forneceu a máquina. A chegada à filial estava prevista para ontem.