[ O tema de hoje na Enciclopédia Ilustrada foi "esplanada", e lembrei-me de uma esplanada de há mais de cinco anos, bem diferente das que hoje alegraram os portugueses. ]
Na sexta-feira do ataque ao Bataclan, estava com uma amiga no centro de Paris. À hora do início do ataque estávamos nós a sair de uma exposição do Picasso e a procurar um restaurante onde jantámos descansadamente - a cerca de 2 km de distância do horror.
Só no fim do jantar, já por volta da meia-noite, nos informaram do que estava a acontecer, avisaram que provavelmente seria muito difícil conseguirmos voltar para casa, e ofereceram o restaurante para passarmos lá a noite. Corremos para os telemóveis - ambos desligados, para conversarmos sem interrupções - para avisar a família que estávamos bem. O Joachim, que estava em Berlim a seguir o ataque pelos sinais que os amigos franceses davam nas redes sociais, ficou alarmadíssimo quando lhe disse que ia ficar no restaurante. A pior decisão do momento, disse ele, porque se dizia que os terroristas iam de restaurante em restaurante e matavam quem lá estava.
Procurámos refúgio no apartamento de uma amiga, não muito longe dali. Foram 10 minutos em que me senti miserável: a andar na rua não como um ser humano, mas como um rato com medo de tudo o que mexe.
No domingo voltámos ao centro de Paris. Sentámo-nos numa #esplanada. É certo que tínhamos combinado evitar cafés em ruas movimentadas, mas rapidamente esquecemos os cuidados, e sentámo-nos onde apeteceu, havia lugar e calhou: almoçámos no passeio do Boulevard Saint Germain.
Às vezes, sentar-se numa esplanada pode ser um acto de resistência. Não deixaremos que nos roubem a alegria de estar na cidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário